sábado, 10 de abril de 2010

Quando a casa cai

Quando a casa cai, os quartos se expõem e mostram seus tacos rotos, despedaçados. As janelas saem do esquadro, olham estrábicas para a rua suja de lama, as vidraças partidas, mosaicos que reproduzem mil vezes a mesma cena triste.
Quando as casas caem, escancaram suas bocas abismadas, suas portas sem as portas mostram o dentro-fora aleatório; outras portas suspiram, querem ser fechadas, estão entediadas da mesmice do morro.
Ali, nada fica em pé, nem mesmo os homens. Todos caem como as frutas, como as casas, como a chuva.
Eu observo de longe o movimento do morro.
A lama, o choro, o chorume se movimentam como se vivessem, mas estão todos mortos nas entranhas da terra, somente os vermes e as moscas comemoram.
Quem não tem como voltar para casa, como caramujos na salmoura somente se liquefazem.

Um comentário:

Renata disse...

Oi Titinha,

Que texto intenso, bonito e tao triste! Tenho certeza que nao posso imaginar o sofrimento que esta acontecendo ai, alem do que ja tinha acontecido em janeiro.

Beijos com saudade.

Renata