quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um telhado

Preciso trocar meu telhado... Sempre me lembro disso quando começam as chuvas de verão.
Chamei um engenheiro, que lida com um tipo de  cobertura muito especial, mas com o orçamento que ele fez poderia comprar um apartamento, que aliás nem precisa cobrir.
Hoje vem um outro aqui ver o que pode ser feito.
O pé direito da minha casa é muito alto, então as telhas precisam ser amarradas uma a uma. Ainda bem que não temos furacões  senão já  teríamos rodado, à deriva.
Vou fazer o possível para reformar em vez de trocar tudo.
Quando imagino a quantidade de entulho, de material não aproveitável que lançarei nas caçambas do mundo, fico apreensiva.
Atualmente, antes de comprar qualquer coisa, antes de qualquer reforma é preciso avaliar o lixo...
Estou aqui pensando - se humanizarmos uma casa o telhado é a cabeça.
Talvez eu precise trocar minha cabeça também...tem tanto lixo...
Bom, mas esta já é uma outra história.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Não vale a pena despertar

Onde foi parar a minha menininha, aquela garotinha brava e determinada e sensível, sempre de olhos ou bochechas vermelhos?
As cordas vocais afiadas até no choro sentido; lembro-me dela e de sua campainha que tremelicava lá no fundo vermelho da garganta como uma atriz em pleno palco!
E ela no colégio, nas filas da entrada cantando o hino, nas apresentações do coral cantando Milton, minha estrelinha da ribalta, meu coração de cristal.
Onde estará minha criança, agora que o tempo passou, e que não posso mais gerar e dependo dela para continuar?
Minha bebezinha risonha, como está séria agora!
Cresceu e transformou-se viçosa e plena.
Não me canso de falar dela.
Nem consigo estancar a saudade que jorra.
Onde está minha pequena Helena, que já não dorme mais.

50221 palavras

Estou em uma espécie de limbo.... Vazio de palavras.
Todas elas me parecem supérfluas agora. Depois de uma maratona de 50221 palavras, sinto que estão todas esgotadas, espalhadas pelos cantos. Precisam dormir e relaxar.
Meu coração hiperativo quer escrever, mas minhas ondas cerebrais são uma linha quase reta e monótona.
Não se impressionem. Já estive assim outras vezes, vou e volto em um balanço constante.
Se eu voltar aos poucos e um tanto triste pode ser culpa das músicas lindas que tenho escutado.
O CD é a Alma Lírica da Mônica Salmaso.
Bonito, muito bonito...


domingo, 20 de novembro de 2011

Estátuas vivas

Hoje vimos capivaras!
Estavam pastando e descansando nas margens do canal do Recreio.
Lindas, cinzas, soltas, nem piscavam. Aliás, o olhar das capivaras tem algo de diabólico. São fundos e sem brilho.  Apenas o contorno das pálpebras e o escuro lá dentro.
Acho que tenho medo, pensei. Quis fugir.
Que bobagem, capivaras são herbívoras. Não me fariam mal...
Passamos por elas, que continuaram plácidas e solenes sobre a grama, como se nem existíssemos.
Dentro do canal, jacarés e garças também esquentavam ao sol.
Que vida boa, meu Deus!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

As chuvas

Novembro, meados de novembro! Vamos comemorar? O Ano passou depressa para você também?
A chuva ainda é mansa, mas estamos tão próximos do verão e de todos os excessos que já se anunciam...
De volta à loucura das festas de fim de ano, reencontros, lembranças.
E continuaremos nessa euforia tensa até o carnaval.
Nesta estação alucinada, prometemos tanto, desejamos muito e depois, no remanso de abril a vida parece a mesma. A história foi anunciada e ocorria como um filme o tempo todo.
Vamos rever uns filmes. É tempos das chuvas e do choro.
Tempo de tragédias ambientais e lá dentro de nós, um tsunami também pode acontecer.
Vamos beber alguma coisa e fazer um drinque.
Para antecipar o prazer e deixar tonta a saudade.

domingo, 13 de novembro de 2011

O voo solo

Criar é para a vida.
Um grão e outro,  um pouco de carinho e mais um tanto de grão, farinha, açúcar e outro grão.
Assim é a criação.
Momentos intensos, de grande amor, alegrias, às vezes desespero ou tristeza, ou só a calma; isso é criar.
Orgulhar-se é criar.
Confiar no esboço e na estrutura e nos pontos de apoio.
Confiar é arte.
E arte é criação.
Arte é para a vida. É para voar. Para seguir seu curso natural. Para fazer um ninho e recomeçar.
Porque criar é sempre para a vida e jamais para si próprio.
Criar é libertar-se

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

É possível emagrecer

Recentemente vi a foto de um colega de faculdade que era gordo nos anos 80. Não sabia dele desde aquela época e era natural que, pela experiencia com quase todos meus amigos e conhecidos, que também envelheceram,  ele estivesse ainda mais pesado. Ao ver a foto de um Paulo sorridente e magro  comentei com ele sobre seu novo visual. Já imaginava que tivesse passado por uma cirurgia bariátrica, ou que estivesse fazendo alguma dieta maluca da vez e curtindo a parte magra do efeito sanfona . Que nada! Ele me passou o link do seu blog sobre saúde e então pude entender e mais uma vez constatar que é possível emagrecer sim e com muita saúde. Bem, é claro que há sacrifícios e restrições. Mas sem dúvida é um projeto de vida. De vida e de saúde.     Segue o link, aproveitem, ele escreve muito bem!
 http://saudeblog.wordpress.com/

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sabiá

Estarão todos surdos?
Minha querida, estarão todos ouvindo e fingem?
Lá no fundo, o melhor é cantar e contar para você e com você.
Solidão é um canto, um pouco de paz, vasculhe lá dentro e encontre uma nova música, um velho amigo, alguém para dividir um doce.
Lá dentro, bem lá no fundo, somos nossos  próprios ouvintes, ternos e fiéis.
Mesmo que esteja longe, você pode falar com a gente, deixe-se ouvir, deixe fluir.
A memória é uma companhia tão agradável, escolha uma lembrança, leve-a para passear com você pela casa, dance com a lembrança e eventualmente empurre para debaixo do tapete, a hipocrisia e a falta de amor.
Queria contar histórias engraçadas para animar seu dia, falta-me a destreza com a saudade para lembrar e dar risadas.
Um jovem sabiá ensaia, vem cantar aqui seu canto pobre, é ainda tão novo...
Mas nós podemos cantar com força, eu lembro de cantarmos afinadas e fortes, vamos transformar este sabiá curioso e jovem naquela canção tão bela que haveremos de ouvir.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Família típica

Mudou-se para a casa em frente a nossa, uma família típica. O casal e um casal de filhos na pré adolescência. Possuem uma cachorrinha, uma daschund  enfezada, que vive escapando pelo portão e corre pela rua. Outro dia na hora de jogar o lixo fora, por pouco ela não entrou aqui dentro e vocês sabem, tenho um cachorrão bravo.
Em nossa nova rotina, olhamos duas vezes para ver se ela não está solta ou se o Haus não está com a cara preta na abertura do portão.
Temo por ela...
Mas a menina é muito engraçadinha, fez amizade com a outra garota, que mudou-se recentemente para a casa ao lado e brincam de boneca nas duas árvores grandes do jardim em frente.
Elas usam um balanço improvisado, uma escadinha, um banco que serve de mesinha e muitos panos cor de rosa.
Sempre que passo em frente confiro as novidades. Novos paninhos, uma amarração diferente, um lenço...
Saudades dos tempos de boneca com a Helena.
Apesar de o mundo estar cada vez mais violento, ver essas brincadeiras de criança trazem a nostalgia, remetem ao tempo que não volta mais.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tragédias

Quem é você?
Você que está sentado aqui ao meu lado na sala da escola, quem é? O que será?
Qual é sua história, de onde vem seus pais, que heranças trouxe dos seus antepassados?
Que dores sofreu, que traumas,  que sonhos, que infância?
Não sabemos mais quem são os outros, os amigos, os inimigos, não há certeza entre amor e ódio e descemos todos da montanha nada mágica da decadência e do horror.
Que Deus salve pelo menos a rainha, matriarca e poderosa, se não no jogo da vida pelo menos na ficção do jogo de xadrez.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ele estava lá

Hoje, quando vi o mar de manhã, sosseguei.
Lá estava ele pleno, desigual, eterno.
Continua murmurando e espuma.
As nuances de cor, também continuam.
Só eu mudei um pouco nestes tempos em que não vi o mar.
Mas ele estava lá, sempre esteve.
Eu é que não estive...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Parabéns aos motoristas!

Tornar-se adulto depende entre muitas outras coisas, de passar por um ritual.
Psicotécnico, aulas teóricas e depois práticas e depois o exame.
Ser admitido na idade adulta requer carteira de habilitação.
Para a maior parte dos adolescentes é um sonho, para outros nem tanto, mas  é preciso.
Muita gente nunca vai dirigir de fato. Tem motoristas, tem parceiros que adoram dirigir, preferem trabalhar no táxi em direção aos compromissos.
Mas a carteira de motorista, a meu ver, é um divisor de águas.
Eu fui sendo levada pela corrente e de repente alguém ligou da auto escola pra me informar que ou eu fazia a prova de direção ou teria que começar tudo de novo.
Daí marquei, fui lá e fiz e depois de passar, fiquei encabulada:
 - Mas eu não gosto de dirigir porque fui tirar carteira?
Compreendi muito depois que todo mundo precisa deste documento, atualmente é até com retrato e vale como documento legal.
É por acalentar o ego, é por saber que se pode dirigir a própria vida!
Por isso é tão importante!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sons


A menina nasceu surda.  O pai percebeu quando entrou no quarto e ela dormia  profundamente com toda a banda barullhenta da festa do vizinho. No dia seguinte, pegou duas tampas de panela na cozinha e entrou no quarto da Belinha adormecida, com cuidado e apreensão.
A príncipio chamou:
-Bela?
Sem encostar nela, chegava mais perto e tornava a chamar:
-Bela?
Então começou a bater uma tampa na outra.
A mulher apareceu com expressão horrorizada, quando entrou no quarto da menina e o marido enlouquecido batia as duas tampas com raiva e certeza:
-Blein, blein, blein!
A menina continuava impassível, dormia profundamente.
Então ela compreendeu.