quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Paraty

Foto do Helena de passagem por Paraty! Feliz Ano Novo, querida! Muitas novas praias para voce!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boa viagem

Eu falei, avisei, presta atenção não vá perder o ônibus. Mas voce ficou distraida achando que a vida é a vida... Passa sim, viu e bem depressa. Na próxima estação há novidades e novos vilões, quem é, quem é, é o frevo e a balada que  recomeçam em  ritmo alternativo. No próximo ano, não perca o ônibus, nunca. Não perca tempo, nem  dinheiro. Sobressalte-se feito um coelho. Anime-se, corra. Vem chegando 2011, que seja bem vindo. E por favor livrai-nos do mal. Na próxima estação os chineses vendem de tudo a preços módicos. Aproveite a dica e boa viagem.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Venha

Se voce soubesse desse céu acima, desse mar ao lado, do ar fresco da manhã, você viria mais cedo, chegaria a tempo do sol se por. Compreenda que a vida é caminhada, correr é um exercício, sofisticado ou infantil,  só depende do ponto de vista. Para a gente que trabalha duro a semana toda, correr de quem, correr para quê? Já os pequenos não se interrogam, só correm, eles e os animais, felizes em viver apenas. Se voce soubesse querida, como é bom viver na brisa, no conforto da casa paterna, debaixo das asas dos nossos anjos, viria mais cedo para casa. Temos abraços e aconchego e risadas. Temos conversa mole, uma prosa adulta e retalhos de poesia. Venha logo, venha que esse dia lindo explode de contentamento.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Búzios

Entrou no apartamento com um medo danado desses boicotes desumanos, quer trabalhar e não deixam, quer viver e não deixam droga, ser rica e não precisar trabalhar, tive que me virar, me sustentar, meu pai um triste, minha mãe uma coitada eu saí de casa bem cedo, determinada saí e fui pra rua comi o pão lá do diabo agora sobrevivo se não me confiscam tudo, sobrevivo até com prazer. O apartamento é muito pequeno, um quartinho e a salinha com uma cozinha acoplada, nem área de serviço, imagine máquina de lavar, nada disso, eu e Mariana que joga búzios na praça, ela consegue um bom dinheiro e dividimos as despesas, quase nada, vivemos para sobreviver, quer ler minha mão e jogar-me os búzios, não quero saber de nada, não tenho sorte nenhuma, não quero ler minha sorte, já a conheço bem. Ela me olha como se soubesse, leu minhas cartas à revelia e olha para mim como quem sabe de tudo, nem ligo pra isso, mas aquele olhar estranho me intimida, daí prefiro não encontrar com ela; se entra eu saio se sai eu entro, ela de elevador e eu pelas escadas, assim conversamos por post it, pregamos num pregador para que não saia voando e deixamos sobre a mesa...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Biscoitos

Nesta época do ano a agitação é geral e não há como escapar de compromissos, festas e compras.
Nas cidades maiores onde o caos no trânsito é diário, dezembro é terrível.
Sobra para quem tem calma ou  absoluta falta do que fazer de  importante e por isso não se estressa muito, reparar no que acontece nas ruas.
Aqui no Rio é batata! Quando é o inferno ou próximo disso, de longe avistamos os vendedores de biscoito Globo! Pode acreditar, relaxe porque vai demorar...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pesadelo

Acordou gelada, tremia  e o coração espancava seu peito. Ouvia as batidas dentro da cabeça, estava molhada de suor. Sentou-se, levantou o travesseiro e tentou se acalmar. Era sempre assim. Quando o dia a dia importunava demais, quando a vida complicava, lá vinha o pesadelo. Muitas vezes antevia a noite e se esforçava para não dormir. Cansada, caía no sono pela madrugada e lá estava acordando do inferno. Porque para ela, que todos os dias usa o elevador em seu prédio e depois outro na escola, aquele sonho é um mistério. Será que procuro terapia, leu sobre interpretação de sonhos, arriscou um palpite. Uma cartomante lhe disse que seria feliz, viveria para ajudar muitas pessoas. Cartomante... eu estou desesperada mesmo, que diabo. Para o padre, confessou pecados que não tinha e chorou quando ele disse que bastava se arrepender e rezar a Ave Maria.
Ela rezou... e rezava antes de dormir – por favor livre-me deste sonho. Se passar uma semana sem acordar, estarei bem. Mas sonhava de novo.
Dentro do pesadelo desce pelo elevador e o espaço é cada vez mais apertado, no térreo é só um caixote e ela espremida lá dentro, agachava-se e entrava num labirinto preto, sentia as baratas até ver uma fresta de luz por onde podia escapar. Acordava sempre antes de sair completamente para a luz...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Amoela


Mãe me ajuda a fazer a lição não tenho tempo peça ao seu irmão ele não tem tempo tem que treinar qual é a dúvida não é dúvida é lição cinco exercícios difíceis, preguiça exercício de matemática depois do trabalho, coça a cabeça suspira e senta, vamos lá concentra, leia o enunciado e ele lê entendeu não lê mais uma vez com atenção cada frase e pensa no que quer dizer, ele relê e então, tá apoia o rosto nas costas das mãos e escreve os números hesita escreve mais um pouco, apaga olha para a mãe que olha fixamente para um ponto no tapete, mãe você não está me ajudando, anda menino, escreve, o quê mãe eu não sei, desta vez ela pega na mão mesmo, lê o texto compreende explica e ajuda o filho a concluir a lição, saem os dois felizes da mesa ele para o elevador e ela para o chuveiro. No parquinho Dudu espera por ele que traz nas mãos os exercícios. Demorou, ela estava cansada não é um computador, onde ela aprendeu, não sei, como não, ri, pega a folha e entrega uma folha com a lição de português, conversam e combinam para amanhã o videogame que não deu tempo. Sobe e vai para o quarto mexer no computador, joga e joga  sabe que o mundo que entra por aquela janela não tem as dimensões próprias das nossas três, são virtuais e infindáveis como números primos, ih o Miguel, oi desculpa estava fazendo lição, mamãe quer combinar com a sua de comemorar seu aniversário lá no Piparote, vamos? Mas lá só tem sorvete não, tem cachorro quente e tem fritas e tem ah você sabe e o bolo minha mãe é que quer levar. Oba, fala com a tia Martha que eu "amoela",ta?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

retorno

A manha era clara e azul. Desceu pela escada pegou o carro e já sumia. Dirigiu por três horas, uma rápida pausa e voltou para a estrada, outras duas horas. A orquídea ficou no chão do lado do passageiro e ela ia sozinha. Ligou o rádio e abriu o vidro que o vento era um potente despertador. Droga,  tenho que me atrasar e correr atrás. Perdeu-se e um desvio a levava para Sertãozinho, como faço para o retorno, sempre estão a alguns metros de quando se precisa deles, tenho que ir lá na frente  nada de inventar  uma saída, que perigo veja o que aquele moço está fazendo deve ter errado também talvez tenha que ir até Sertãozinho e dar a volta na praça central, para pegar de novo a estrada. Suspirou com preguiça e aflição, às vezes o dia é caótico  e acaba em nada, o dia é só um retorno mal feito, quanta perda de tempo. Perguntou ao moleque que vendia laranjas, como faço para voltar, daqui a uns três quilômetros dona, pode levar umas laranjas pra me ajudar, ela agradeceu e levou seis laranjas que colocou ao lado do vaso de orquídea e as cores se confundiam, a casca e a flor e no retorno ao fazer a curva viu seu vaso entornar e a orquídea empalideceu um pouco, lembrou-se de quando levara o gato para fazer exames; de preguiça de esperar colocou logo o bicho na caixa de transporte, ele e seu pelo branquíssimo, a meio caminho olhou para o gato que se lambia e viu que sangrava mas o que acontece, só via sangue,  com a mão no volante e os olhos contrariados no gato, perdeu a direção e chocou-se com um Fiat estacionado, quando se deu conta ela e o gato estavam de cabeça para baixo, mas fora o susto ela e o gato estavam bem conforme disse para a mãe apenas a grana ia ficar ainda mais curta porque o Fiat ficou em frangalhos, mas ela e o gato estavam muito bem. Quando fez o retorno, era um retorno à rotina normal, tratou de se concentrar antes de fazer mais burrada e perder mais uma hora, quando chegou a casa da mãe já passava do meio dia e a mãe aflita o que houve e ela, o gato sangrou, ah não foi o retorno que peguei errado, perdi um pouco de tempo, vai dar tudo certo, saímos daqui a pouco vamos direto pro hospital... 

Morrer


Outro dia vi um gatinho agonizando, era velhinho, velhinho e estava tão doente. Fiquei ali do lado, confortando e acudindo, mas acho que nem ouvia mais. Prestei atenção em sua respiração, cada vez menos, cada vez mais fundo. Contava o tempo entre uma e outra respiração; penso que é como nascer ao contrário, contamos as contrações da mãe para o nascimento da criança. Quando mais próximas mais perto da hora. Talvez morrer não seja nada além de um trabalho de parto.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Visões

Estava muito doente, no hospital. Tomava uma  miscelânea de medicamentos pesados, fora os outros da minha rotina. Lá pelas tantas, estava sozinha no quarto e escurecia. Fazia nebulização e no meio da fumaça reparei em umas imagens peculiares. Eram flores, muitas flores que eu via na parede a minha frente e que lentamente se aproximavam, tocavam meu nariz e explodiam. De novo na parede um mosaico,  egípicios, que se aproximavam num crescendo até me fazerem cócegas. Resolvi relaxar e aproveitar o "filme". As imagens se multiplicavam e se transformavam coloridas entre o verde e o vermelho para se desmancharem sobre a cama numa sequência infinita. Achei lindo. Curti demais e mesmo depois da inalação terminada as imagens continuaram por um tempo e eu em êxtase!
Comentei com a técnica de enfermagem que a inalação tinha feito um bem enorme. Ela disse que ótimo então vamos continuar. Fiquei esperando até a próxima que coincidiu justamente com  a hora em que fui tomar banho. Oito horas depois fui até a porta do quarto que abri e ficava esperando passar alguém para reclamar desejosa: Cadê meu berotec?
Fiz muitas outras inalações sempre ótimas, reconfortantes. Mas as imagens que eu queria tanto rever, nunca mais aconteceram.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mendigo

O mendigo, coitado vive na esquina dorme ali e come os restos da padaria, dizem uns que era casado e feliz até que sua mulher largou dele por outro; começou a beber, era trabalhador, era brasileiro, trabalhador, lá da Bahia veio morar em São Paulo, era servente, depois ajudante de pedreiro e aprendeu a reformar sofás, então trabalhava muito e era tão feliz, naquele dia  bebeu até o dia seguinte, invernou, há quem diga que a mulher largou dele por que já bebia demais ela não suportou, que ela fugiu com outro todos concordam, se foi bebida antes ou depois é que ninguém sabe, também ninguém atenta para a vida dos pobres todos querem que o serviço seja feito, se atrasar é que vão reclamar e as vezes reclamar tem conseqüências terríveis, porque pode detonar um inferno, contam que o rapaz  invernou e a mulher teve que trabalhar para terminar o serviço que não ficou muito bem feito ela não tinha as manhas da coisa, reclamaram do atraso, depois do serviço porco, depois da falta de alguém para atender, depois do bêbado transfigurado que ficava escornado lá num canto cheirando a vômito. Aquela dona tinha encomendado a reforma do sofá assim do nada, era um bom serviço, bem pago mas tinha que ficar perfeito e ele não conseguiu, a dona queria que entregassem em sua casa, ele perguntou se tinha elevador e tinha, então prometeu levar no sábado quando concluísse o acabamento; sua mulher nada sabia, esperava que fossem buscar aquela marmota e nada,  precisava do dinheiro; se bem que não tinham filhos poderiam se virar de qualquer forma eles viviam bem desde os tempos de Bahia que ela gostava dele, mas agora nem me fale, nem me fale, que vou embora daqui e largo tudo vou largar tudo e deixar este frouxo as traças, em seu vomito fedido ele era bom mas sempre teve uma queda, por mim e pelo gim, qualquer coisa, no final, beber a torto e a direita, bebia até perfume quando não podia beber outra coisa o álcool consumiu seu fígado destruiu suas verdades e ele esqueceu que pode-se ser feliz, ou não só depende do sujeito. A dona veio fula perguntar pelo sofá, falava com um sotaque esquisito, francês não era, japonês, é japonês ou chinês, ela era nipônica demais e estava pisando nas tamancas furiosas, estava  brava pra caramba; então largou tudo lá e foi-se embora com o porteiro do prédio, em frente que já queria largar aquele serviço porque nunca gostara de elevadores e  havia 4 que sempre encrencavam, ele queria voltar para a Bahia e plantar coco, ela achou perfeito e foram, tudo ficou abandonado,  estopa e panos , frangalhos de pano, a maquina de costura numa solidão de dar dó, a lâmpada esquecida acesa e assim ficou até que acabou seu tempo de vida útil e o mendigo babado ia ser preso, porque recebeu adiantado pela reforma do sofá,  desistiu, desistiu completamente e passou a viver na esquina foi despejado do pequeno porão onde trabalhou tanto. Nunca mais seria baiano de novo, nunca mais brasileiro, nunca mais humano, era um bicho, um bicho acuado e fedorento, deixem-me deixem-me , todo mundo conhecia, passavam por ali e davam comida ele comia, porque não, comia e depois dormia e acordava e ia beber, comprava pinga e misturava com limão estava acabado; até que parou de respirar foi visto frio, gelado e morto, acabou-se.