domingo, 29 de maio de 2011

A Bocha

Em nossas habituais caminhadas, Miguel e eu sempre passamos ao lado de uma quadra de bocha, atração apreciada por vários moradores do Condominio Barra Bali. Conheço o jogo faz muito tempo, quando ainda em São Paulo e passeávamos no parque da Aclimação. Quem está jogando nem percebe o mundo fora da quadra, tamanha a concentração, ficam horas pelejando para acertar as bochas no tal de bolim. (Sim, é uma bolinha). Há toda uma sutileza no jogo que não compreendo. Ao olhar de fora, do passeio, vemos vários jogadores parados em pé, que olham para um ponto específico da quadra e enquanto isso conversam a meia voz.  Preciso fotografar isso é muito curioso.
Neste sábado, depois de uma semana fresca parcialmente ensolarada, fechou o tempo. Saímos para nosso passeio e ainda havia sol, mas depois de uma hora caía um chuva fria. Até chegar em casa ficamos ensopados. Ao passar pela cancha, lá estava um indivíduo molhado da cabeça aos pés, jogando as bochas!
Ao que o Miguel não se conteve.
- " É que são duas modalidades de bocha. A convencional e a bocha úmida!"




sexta-feira, 27 de maio de 2011

Com quem eu falo?

- Alô?
- Por favor, Marisa Beltranieri.
- Ela não mora mais aqui faz pelo menos 6 anos.
- Mas ela deixou este número como referência...
-..........
- Tem um telefone de contacto?
- Não, não deixaram...
-Mas ela deixou este número!
- Sinto muito.
(E aí a pergunta massacrante):
-Com quem eu falo?
- Para que você quer saber?
Ela repetiu
- Com quem eu falo? E eu: - para que você quer saber?  mais irritada ainda.
E ela: - então tá, desculpe o incômodo.
- Tchau.
Puxa, não é a primeira vez. Acontece pelo menos uma vez por semana.
E eu que não tenho mesmo um número de contacto, tenho que ouvir.
E o pior, nem posso ligar para a fulaninha e pedir que ela pare de dizer que o meu telefone é o dela...

Ração, please!

Ora veja, estava deitado sobre o carpetezinho verde, pequeno demais para ele.
A cara apoiada na soleira da porta.
- Voce não esqueceu de nada?
 Olhei para ele de novo.
- Coitado!
Fui depressa para a cozinha e depois para a área de serviço.
Chovia pesado.
Enxuguei a vasilha, peguei uma medida da ração e coloquei no chão da varanda da frente onde não chove. Ele comeu tudo calmo e feliz. Depois, de sobremesa um caroço de manga que em instantes ficou com os cabelinhos brancos.
Eta, cachorrão, grande e doce assim é impossível esquecer de você por muito tempo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Furtos, roubos, latrocínios

Furtaram meu anel, joiazinha de beleza singela, herdada de minha avó. Uma pérola levemente rosada, em uma aliança de ouro português; que pena. Ainda tenho o hábito de buscá-la no anelar direito com o polegar, se estou nervosa ou preocupada.
Havia deixado sobre a pia, no quarto do hotel, porque estaria visitando o centro da cidade onde o roubo é comum. Quando voltei ao quarto e dei pela falta, acionei camareiras, gerentes, tudo.
Ninguém tinha entrado no quarto, ninguém.
Uma tênue marca de pele mais clara no dedo confirma que o que eu tinha ali era querido e usado constantemente. Mas, nunca mais vou vê-lo, nunca mais vou tê-lo. É de partir o coração.
Roubaram-me certa vez uma corrente. Dessas muito finas de se pendurar o santo, ou os filhos.
Saí distraída do meu prédio e nem vi quando o rapaz veio ao meu encontro,  bateu a mão no meu peito e levou minhas lembranças. Apesar de triste, fiquei mesmo muito assustada e em pânico, chorei como havia anos não chorava.
Uns tempos depois me aconteceu ser vítima de um roubo qualificado. Os dois rapazes fizeram-me um cerco na porta do carro e um deles, conversando baixinho comigo, com uma expressão inteligente e amigável, me mostrou o trabuco na cintura. Não gosto mesmo de armas, mas aquela teve o efeito de uma convulsão. Perdi as pernas, acho que até babei de pavor. Saí da frente deles, cada um entrou por uma porta e lá se foi minha bolsa. Só, porque o carro, não conseguiram levar, talvez por ser automático; deixaram lá todo aberto e fugiram na Pajero em que tinham chegado.
A sensação de vazio é quase irreparável quando lhe roubam a bolsa. Para nós, mulheres, bolsa  é uma espécie de fetiche, um missal; um objeto de aglomeração da identidade.
Meus documentos, minhas fotos, minha caderneta de anotações e a de endereços,  minhas chaves, nossa, o quanto de mim havia ali?
Tinha me conformado com a via sacra necessária para fazer a segunda via dos documentos, cancelar cartões e tirar nova cópia das chaves.
Depois de uns três dias, recebi uma ligação de uma amiga querida, com quem não falava há meses.
Ela disse-me que recebera um telefonema curioso: Disseram-lhe que os meus documentos tinham sido encontrados e estavam a minha disposição na igreja evangélica de um bairro da periferia. Conseguiram o telefone dela na minha agenda de endereços.
Não podia acreditar! Mas eu iria até lá? Nem morta!
Chamei um táxi, dei a ele o endereço e pedi que fosse buscar os documentos para mim, que eu o pagaria na volta por todo o processo. Ele topou, concordou comigo que eu não deveria mesmo ir e me fez esse grande e caro favor. Voltou trazendo a bolsa, um pouco enxovalhada mas quando olhei dentro tive uma grata surpresa. O dinheiro, os cartões, o celular e outras quinquilharias tinham desaparecido, mas meus documentos estavam muito bem arrumados dentro da carteira, coisa que jamais consegui manter.
Quando bate um desespero de não encontrar mais nada lá dentro, crio coragem  e esvazio no tapete todo o conteúdo para dar um jeito e jogar  fora pequenos papéis e outras bobagens. Mas assim que arrumo a bolsa e saio de casa, algo acontece lá dentro e as tralhas em conluio se desarranjam.
Confesso que senti certa vergonha do bandido. Mas fiquei muito feliz de reaver os documentos.
Bom, não gosto muito de pensar no assunto, mas do jeito que vai, o próximo acontecimento dessa natureza  é um roubo qualificado seguido de latrocínio. Eu, hein?

terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma loira em minha vida

De súbito resolvi cortar de uma vez por todas a loira da minha cabeça.
Não me reconhecia no espelho e a loira seguia meus passos. Ia comigo ao dentista, à praia, à academia.
Ela esmorecia um pouco quando o cabelo estava molhado, mas manter o cabelo molhado para afastar a loirice estava ficando persecutório.
Então compreendi que precisava ter atitude, antes que ela assumisse completamente minha personalidade.
Fui lá cortei muito, tingi da cor 6 - castanho escuro - e reconheci que estou mais parecida comigo do que nos últimos meses.
É certo que a loira voltará eventualmente. Cabelos lavados sempre, sol direto na cabeça, grisalhice...
Já estive mais e menos loira.
O corte da vez é curto. A cor da vez o castanho.
Cá estou eu, como de fato sou!

Nos dai hoje

Você lembra?

A mãe dessa menina fica horas "on line". Navega com  facilidade, faz amigos, compras, tudo! Uma internauta nata. E outro dia estava desenhando com o Photoshop.  Joga também. Majhong.  Cartas não, não gosta. E tem um blog. No blog essa mãe conta histórias singelas, as vezes engraçadas, as vezes inspiradas. São misturas de vida e fantasia, parece que a mãe se alimenta de mistérios e bebe uns goles de mágica.
Ela conta que às vezes a mãe delira e vai conversar com os bichos, parece que sabe o que sentem, ou sente o que os bichos sabem.
Essa mãe, essa mãe, nunca deixa de desejar.
Quer o ninho aquecido, os filhotes com biquinhos abertos.
Quer fazer uma festa de criança, dessas de encher os olhos, linda na música, no tema, nos arranjos. Faz tempo que não contrata o dono do compressor de ar para encher os balões e cadê o fôlego?
Faz tempo que não ouve o professor de música com seu violão a ensinar a menina na sala de estar.
Levar ao shopping, à academia de dança, ao jogo de vôlei. Não mais agora.
Faz tempo não ralha por causa da toalha molhada no chão do banheiro.
E a hora de dormir? Como pode interferir agora?
São lembranças boas essas, aquecem o ninho vazio, confortam.
A mãe e essa menina já crescida não brincam mais de "me lembra".
Mas as duas se lembram de como era bom!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O desenho da sombra

Teorema pueril

No céu de um azul escancarado conversavam o sol e a lua, cada um em sua janela.
- Ei, garota o que faz aqui de manhã? Vá dormir que a labuta será intensa quando anoitecer.
- Ah, deixe-me em paz, estou tonta ainda, bebi demais.
- Pois não vá arrotar nuvens em meu terreiro recém varrido, hein?
Ela suspirou com preguiça daquela conversa àtoa, virou-se para o outro lado e meio minguada foi ficando por ali.
Ele que queria mesmo era jogar conversa fora, voltou a reparar, de sua posição privilegiada, nos detalhes da terra. Porque  quando chegasse a noite, forçosamente teria que ir dormir.
Tem sono cedo esse loirinho, mas faz um bem enorme por aqui, no outono.

domingo, 22 de maio de 2011

Ver o mundo

      Ah, mundo, faz isso não, abra a porta para eu entrar.
Se não for a porta pelo menos uma janela, um basculante que seja, eu preciso ver de fato.
O que vejo daqui, das telas de tv e computador, não tem os cheiros que preciso, nem os sabores de dar água na boca. São imagens esterilizadas, e a emoção que sinto é emprestada dos filmes ficcionais ou não.
    Olha mundo, entre você em minha casa, eu que chamo todos para as visitas do ano, entre por minha porta de madeira, aberta, pelas frestas das janelas, pelas passagens das goteiras do teto. Traga seu hálito fresco e novo e sua pulsão de vida. E com a água das chuvas interrompa esse marasmo, faça-me irritações de toda espécie, liquide de vez a anestesia da minha língua e minha falta de tato.
   Outono do mundo pode entrar e traga suas folhas douradas. Vão sujigar meus medos de pequenos insetos.
   Mexa comigo, mundo. Faz-me viver.



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Melhor que bombom!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Deixar estar

Faz de conta que eu comprei um cavalinho de madeira que faz um movimento de vai e vem engraçado, só para seu prazer, só para seu deleite.
Finge que todos os animaizinhos rejeitados, foram socorridos.
Mas  tão poucos tem a sorte de encontrar abrigo e eu fico aqui lacrimosa pensando, não são apenas os animais, e todas as crianças? E todos os velhos e aqueles todos com deficiências?
Hoje vi um pai que andava rapidamente - quase corria - e falava ao telefone. Alguns metros atrás dele ia o filho com uma leve disfunção, algum retardo. O pai ocasionalmente gritava para ele -  vamos, ande mais rápido! E o rapazinho ia, correndo até alcançá-lo e ele continuava caminhando muito, muito depressa.
Talvez seja a forma dele de estimular seu  filho.
Mas fiquei cheia de dedos, cuidado com ele, cuidado, ele é tão frágil...
Contida, corri o máximo que pude, antes que minha vontade absurda de pegá-lo no colo e levá-lo para casa me envolvesse.
E aqui, continuo pensando: o que há de errado comigo? Porque não posso deixar estar?
Finge que a vida é um carrossel e que seus giros se completam em instantes e tudo volta ao normal.
Vamos fingir para sempre, que de outra forma não podemos sobreviver, nem deixar estar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Corpo fechado

Quem tem o corpo fechado quase não fica doente.
São essas pessoas que a vida fortalece desde o nascimento, colocando à prova velhos conceitos da medicina, que tiram de letra.
Vai ser um menino bobo? Que nada. Pura competência.
Pode ser que fique com o braço meio roto... Não faz a menor diferença.
E assim vai indo, passando por cima dos mestres e seus paradigmas.
Abençoadas essas pessoas que quando próximas aquecem e se distantes fazem muita falta.
Abençoados aqueles que podem ter a rica convivência com alguém assim.
Até acontece de a porta se abrir e bater um vento que entorta um pouco os quadros da parede.
Fica aquele desvario incomodando até que se perceba a causa e se ajuste o esquadro.
Depois da chuva, o ar é fresco e respira-se a plenos pulmões.
Pessoas de corpo fechado quase não ficam doentes.
Mas quando ficam  por pouco não entregam a prata da casa.




quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fritadeira elétrica

Quando mudamos para o Rio, visitamos um casal amigo para um churrasco e lá encantei-me com um descascador de legumes - uma invenção dos deuses - e uma fritadeira elétrica.
Naquela época ainda comia algumas frituras e como pretendíamos fazer muitas festas, achei que a dupla poderia ser útil aqui em casa.
Numa só leva comprei um descascador de legumes, uma fritadeira elétrica e de quebra uma panela de cozinhar no vapor. Um contra senso concordo. Se a panela de vapor tem por princípio minimizar o uso de óleos ou manteiga, a fritadeira somente frita. Mesmo assim gostei de abrir minhas novas aquisições, ler as instruções; e fiquei pronta para o próximo churrasco. Imaginava fazer um arroz bem soltinho na panela de vapor, assar umas picanhas na churrasqueira e - o acompanhamento  perfeito para todo churrasco - fazer batatas fritas.
Bem, isso nunca aconteceu. Os churrascos seguintes foram preparados por firmas especializadas nisso- aqui no Rio tem aos montes.
Se era para receber dois casais, ou a família, acabávamos no pé da churrasqueira, comíamos as carnes, o pão de alho, a linguiça, uma ou outra saladinha de folhas... e depois a sobremesa.
As belas panelas foram ficando no ostracismo, quietinhas e embaladas no armário  de esquecer da cozinha. Na hora das grandes faxinas, retirava de lá meus tesouros, e reconsiderava, mas eles voltavam para as caixas e seguiam limpinhos.
Quando nos mudamos de casa, novamente pensei em usá-las. Acho que o fator paralisante era justamente esta ambiguidade:  panela de vapor - panela de fritar.
Cheguei a preparar a fritadeira para umas batatas mas deu até dó. Estava tão, tão limpinha e eu ia sujar tudo de óleo? A panela é grande e eu teria que usar uns dois litros, acho. E depois? Não teria o que fazer com toda aquela gordura, iria jogar no lixo?  E o apelo ecológico? Transformar em sabão?  
A panela voltou para a prateleira, imaculada.
Faz pouco tempo, na tentativa de tornar nossa comida o mais saudável possível, experimentei finalmente a panela de vapor. Estou adorando. Está frio agora e aquele vaporzinho além de tudo esquenta a cozinha. Faço arroz de diversas estirpes - estou aprendendo a apreciar os integrais - cozinho ao mesmo tempo muitos legumes sem uma gota de óleo, o peixe fica muito macio e saboroso, o frango também. Tá certo que lhes falta o blush da refogada no azeite, mas a gente acaba aprendendo a usar umas ervas diferentes que perfumam e dão uma cor.
Meu problema agora é a fritadeira, ainda não arranjei uma utilidade para ela. Procurei na internet - será que posso usar água ao invés de óleo e transformá-la numa formidável e simples panela elétrica? Parece que não.
Assim, vai aqui a dica. Quem estiver pensando em adquirir uma fritadeira elétrica apesar de tudo, saiba que tenho uma aqui, coitada, ainda virgem e desejando ser útil pelo menos uma vez na vida.

Buganvílias

terça-feira, 17 de maio de 2011

Inverno

De súbito!

Hoje tive medo quando fui pedalar no calçadão.
Quando saí, fazia um dia claro e fresco com nuvens.
Ao chegar à praia o céu tornara-se cinza chumbo, o horizonte esmaecera e o mar transbordava. 
Na ressaca, as ondas se descabelavam sobre a areia tímida de no máximo dois metros de largura.
Num átimo começou a chuva. Ventos fortes, pingos duros e frios fustigavam a pele descoberta pronta para o sol. De volta para casa ainda olhei o mar revoltado e infeliz.
A chuva ardia em pontas e eu não sabia se pedalava mais rápido e aumentava a força dos pingos ou se ia devagar e conformada para casa. No caminho de dúvidas via outras pessoas surpreendidas pelo temporal, encharcadas como eu.
Assim que cheguei, fui tomar um banho bem quente, conforme ensinou minha mãe.
Depois vesti pela primeira vez o casaco da faculdade de veterinária do Texas que ganhei da Renata.
Superconfortável, com uma caneca de chocolate quente e uma mantinha, sentei no meu canto para escrever.
Não chove agora. Mas o céu promete.
Neste momento a vida virtual é bastante mais segura.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

As violetas

Os pássaros

Sabe, Irina, meu lindo comedouro de pássaros não vingou.
Tentei de tudo.
Mudei de lugar, da luz intensa para a sombra e ainda para a penumbra...
Onde havia vento, e onde não havia.
Prendi em galhos, na parede, debaixo de um ninho de rolinhas, no telhado da varanda.
Ofereci banquetes: de frutas: papaia, laranja, manga, uvas; de grãos:  alpiste, arroz, gergelim, erva doce  e painço, além de papinhas e rações de todo tipo.
Nada...
Só formigas e abelhas.
Desisti. O comedouro está agora debaixo do pé de buganvilias vermelhas; dentro dele dois vasinhos de violetas.
O arranjo ficou bonito, mas nada de pássaros.
Enfim concluí, eles já estão por toda a parte. Meu jardim é cheio de flores. A terra é fértil de bichinhos apetitosos. Porque haveriam de ser atraídos pelo comedouro, tão artificial, se a natureza em torno é puro esbanjamento?
Estou sossegada agora. Um arisco colibri veio beijar a rosa, depois passou zunindo de volta ao galho de hibisco. 
E um bem-te-vi barulhento me espiou pousado no pinheiro ao lado dos brincos de princesa.

Surf

Nunca compreendi o prazer dos surfistas. O mar para mim é lindo de ver e ouvir. O contato com a água salgada e cheia de estranhas criaturas insinuantes  deixa-me exasperada. Vejo aqueles garotinhos e marmanjos, além de muitas meninas carregando as pesadas pranchas. vão alegres em direção ao mar.
Nas rádios há um repórter exclusivamente para dizer como estão as ondas em cada praia. Depois de descrevê-las   muitas vezes ele termina dizendo: "rola uma brincadeira"; eu adoro essa frase!.
Há escolinhas de surf em várias praias e muitos, muitos alunos. Fico de longe observando os movimentos impressionantes sobre as ondas e os tombos, incríveis mas inevitáveis. Quando penso na queda, arrepio! Imagino cair no mar gelado em meio a um turbilhão de bolhas, a água salgada entrando pelas narinas, musgos preguentos tapando um olho ou os dois e outras entidades que nem quero imaginar o que são em meio a areia fofa do fundo, excelente para ralar o cotovelo. Bom, já deu pra sentir minha absoluta falta de empatia pelo esporte. Mas hoje, lendo as notícias deparei com imagens de um fotógrafo  australiano, tiradas de dentro da água e achei magníficas. Tenho paixão por fotografias. E estas valem a pena.
Para os que não compreendem como eu posso não gostar de surfar, estando praticamente à beira da praia o tempo todo, peço um desconto. Sou mineira e sinto falta das montanhas!

Mark Tipple - http://www.theunderwaterproject.com

domingo, 15 de maio de 2011

Conexões

Cafezinho

Esse meu jeito singular de ver o mundo, essa minha tensão de violino e meu gosto exacerbado pelo ácido, não poderiam mesmo render-me muitos amigos, nem muitas companhias que valessem.
Estou sempre desdenhando: " ora de que me servem essas pessoas todas, melhor estar quieta e só que desperdiçar-me com más companhias."
Bem sei que invejo quem se espalha por aí numa alegria incontida, a  papaguear com faceirice a torto e a direito. Decerto essas borboletinhas alegres terão bem mais histórias para contar que eu; às vezes falta-me o assunto.
Por outro lado, com tão pouco material para tricotar, acabo afiada e densa e transformo água fervente e um pouco de pó em um saboroso e perfumado cafezinho.
Aceita?

tanblack

sábado, 14 de maio de 2011

Ah, a memória...

Onde foi que esqueci minha memória?
Uma receita simples, um apontamento, o nome daquela amiga...onde?
Procurei atrás do espelho, na prateleira dos remédios, vasculhei minha bolsa...não está.
Olhei no baú de roupas descartadas e ao tocar em algumas senti uma emoção diferente, mas por quê?
Ralho comigo: você precisa prestar atenção na leitura. Soletre as palavras.
E então fico outra vez em dúvida: Seria Parmalat ou Parlamat?
Por que a memória tem tantas perguntas?
Ando tão esquecida, tão distraída.
Olhar-me no espelho com a vista cansada tem a vantagem de a imagem mostrar-se menos nítida, portanto mais econômica nas rugas.
Talvez seja assim com a memória. Há tanto para esquecer.
Mas entre tudo que é melhor não lembrar vão preciosidades também.
Varremos o chão e no lixo encontramos um camafeu a tanto tempo desaparecido.
Quero me engambelar e penso que deve ser o excesso de informações nesses tempos de internet. Tudo tão a mostra, dado, de graça mesmo. E basta apertar outra tecla e toda a informação aparece de novo.
Afinal, para quê memória? Deixa estar!
Puxa, mas alguns camafeus, tão preciosos eu bem que queria lembrar de novo.

Sombras

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Tocar as nuvens

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Macro abstração

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cio da Terra

Faço parte de uma família musical e barulhenta. Todos tiveram sua vez de aprender violão e flauta, no mínimo. Lembro-me de que pelejávamos para tocar Greensleeves na flautinha doce e lá pelas tantas um som agudo deflagrava o insucesso! Pííííiííííííí´. O artista da vez tinha se cansado; e a flautinha ficava lá jogada até alguém sem nada mais interessante para fazer resolver tentar outra vez.
Porque na época, o ócio era entediante e o máximo da interação "virtual" possível era o telefone, em geral preso à parede pelo fio enroladinho. Sem privacidade e quase sem opções para passar o tempo.
Bom, minhas irmãs cantavam e tocavam e eu às vezes também cantava na gaiatice, para sentir o doce sabor do sucesso.
A Renata conhecia a cidade inteira e vice-versa. Cantava em festivais e missas; ou em qualquer lugar que a chamassem, ela adorava. Junto com alguns amigos afinados montou uma trupe que se chamava Grupo. Acho que a formação básica era a Renata, Fernanda, Lisete, Ricardo, Sérgio, Marcelo, Eliana  e Maria Inês,  mas sempre havia alguém a mais agregado; eu inclusive algumas vezes participei.  Os ensaios eram frequentes; tocavam e cantavam de tudo,  era lindo e dá uma saudade... 
Não sei quando começaram a cantar em casamentos mas lembro-me com encanto de sentir a melodia  espalhar-se  pela catedral. À medida em que escrevo recordo-me das músicas que tocavam, nossa!!! Aquela experiência não era para qualquer adolescente. Eu tive muita sorte!
Quando me casei, o Grupo foi tocar para nós. Eles sabiam bem como harmonizar a liturgia com as canções.
No meio da cerimônia pude ouvir a música perfeita para o momento e para nós dois - Cio da Terra.
Tive a impressão definitiva de que a terra precisa mesmo ser afagada para dar seus frutos e é preciso muito trabalho.
Nada como dividir, compartilhar e realizar essa tarefa por mais de trinta anos com o "querido" certo.
Naquele momento, extremamente emocionada percebi que seria para sempre.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pôr do sol

Eu sei, eu sei, é so mais um pôr-do-sol. De tirar o fôlego...

Xixi!

Helena pegou a mão do irmão e puxou-o para si. Ao abaixar-se ele não compreendeu o que ela sussurrou: xixi! E ele: Hein? Ela repetiu mais alto: xixi! Ele espantou-se, olhou para todos os lados; e agora e agora?
A menininha de quatro anos saía sem a mamãe pela primeira vez. Um passeio histórico para ela - usava seu melhor vocabulário e  um mimo de vestido, vermelho com rendinhas brancas na barra e nas mangas. A postura muito ereta e a sandália de saltinho anabella davam todo o tom da  novidade e excitação.
O irmão encabulado levou-a até a porta do banheiro. Sempre vira as mães levarem seus meninos ao banheiro feminino, mas ali ele teria que improvisar. Resolveu ficar próximo à porta a escolher uma pessoa com aparência de mãe e que estivesse sem um filhote do lado. Entraram duas adolescentes de uniforme. Uma senhorinha com sua bengala de três pontas. A moça da lojas americanas...não.
Helena apertava as perninhas, os joelhos um pouco dobrados.
Então fez-se a luz!
- "Querido, você por aqui? Como vai Brasília?"
Ele a abraçou saudoso e aliviado. "Que bom que você chegou! Helena quer muito ir ao banheiro."
A amiga conpreendeu o desafio e caiu na risada. "Tudo bem, pode deixar que eu a levo". Deu a mão para a pequena e disse: Vamos? Entraram as duas conversando e ele lá fora apreensivo... E se não for xixi? Que vergonha...
Quando elas sairam, perguntou: "Você lavou essa mão?"
A menininha disse que não com um ar divertido. A amiga retrucou: "Como não? Claro que lavou!"
Eu, que estava observando de perto, pensei com meus botões: - Ela aprendeu a apertar o pino do dispenser de sabonete com a mão direita e só depois esfregou uma mão na outra. Parece-me que a mão esquerda também queria aprender.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Plástico



Febre reumática

Quando eu tinha uns onze anos, de maneira insidiosa comecei a reagir mal aos estímulos. Sofria esgares e torções a cada vez que falavam comigo ou sempre que ficava nervosa ou na berlinda.
O que a princípio parecia ser uma  manifestação da adolescência, mostrou-se uma doença custosa; a tal da febre reumática na versão coréia. Simplificando, o doente tem mesmo movimentos involuntários, por uma inflamação em algumas áreas do cérebro e não há como evitar.
Atualmente quase não ouço falar dessa doença e das consequências dela, às vezes com lesões graves como a cardiopatia reumática.  " A febre reumática lambe as articulações mas morde o coração." 
Para prevenir novos surtos da doença é preciso evitar  certas infecções de vias aéreas e a profilaxia é uma injeção de Benzetacil por mês. Uma penicilina de depósito que vai sendo eliminada aos poucos para a circulação sanguinea.
Era assim: Uma vez por mês uma aplicação feita por mamãe, papai ou irmã-acadêmica-de-medicina. Era uma comoção, pelo menos para mim. 
Havia na casa,  um estojo de aço, com seringa de vidro  e agulhas reutilizaveis - até que ficassem rombudas. O estojo era muito bem guardado e era fervido em banho maria para esterilizar. Depois do advento da aids muita gente nem conhece este tipo de estojo, que cá entre nós era um charme.
Muitas vezes não havia álcool e usava-se o álcool da garrafa de pinga mais próxima.
Um belo dia, resolvi começar a ir até à farmácia tomar minha injeção privadamente. Pedia um dinheirinho para a mamãe e ia. Doía muito, desde a aplicação até uns dez dias depois, era sofrido.
Certa vez deixei passar o tempo e acabei doente de novo, desta vez com artrite, outra manifestação frequente.
Levei uma bronca da mamãe- cada um tem que cuidar de suas próprias doenças-  e lá fui eu para a cama de novo, repouso forçado. Foi muito bom porque aproveitei para ler os clássicos da nossa estante - Machado de Assis,  Monteiro Lobato, As mil e uma noites... e aprendi definitivamente que precisava cuidar de mim mesma e das minhas mazelas.
Certa vez fui tomar a injeção em uma farmácia da Tristão de Castro em Uberaba, que nem existe mais. O enfermeiro garantiu: Você não vai sentir dor alguma, vai ver! Mas eu já tinha ouvido isso muitas vezes... Preparei o músculo da vez e esperei pela dor pesada e infiltrativa.
Mas desde a aplicação e durante todo o próximo mês milagrosamente nada senti.
Procurei pelo meu benfeitor para as próximas aplicações mas nunca mais o encontrei.
Tenho cá minhas dúvidas... Acho que naquele mês quem me salvou foi meu anjo da guarda.
A injeção deve ter sido no máximo de soro fisiológico.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Deixa ver?

Deixa ver seu machucado, não vai doer só de olhar. Não, não vou por a mão, só vou olhar.
Deixa ver seu olhar, que dói de mágoa, dor ardida e molhada de muita história.
Fiz as contas e descobri uma falha nos números:
Ao dividir por dois obtive um, ao dividir por um obtive outro.
Nesta brincadeira foi passando o tempo de sarar a ferida ou pelo menos mudar seu tom, descolorir.
Finge que nunca doeu, mas não acredito. Não quer me deixar olhar, mas vejo seu desarranjo.
Escuta, nem vou mais dormir, ficarei de vigília. Quando pegar o sono, vou conferir sua ferida e você vai compreender como é bom ser confortado.
Um carinho, um beijo, abraços...
Tão bom!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Haus

Peso morto

Nesta manhã acordei leve, muito leve.
Eu também carregava esse peso morto faz quase dez anos.
Amortecido, foi jogado ao mar, que alivio, bem longe de nós.
Que seja devorado e se desintegre rapidamente. 
Que todas as suas moléculas vão para o centro da terra, de onde devem ter vindo e se atraído, urdidas pelo mal.
Que novos santos cumpram-se em milagres.
Vida longa e feliz ao duque e à duquesa de Cambridge.
A gente bem que merece festas tão lindas e emoções gratificantes.