sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Um colo

Ofereço para alugar, um colo de mãe usado, mas bem conservado, ainda quentinho.
Quem quiser pode se aninhar, sei embalar muito bem.
Também sei cantar e fazer dormir. Meu cafuné, disse-me minha filha, é gostoso e relaxante.
É um colo grande, confortável, para pessoas de qualquer idade.
Há vinte anos se formou e para sempre.
Pode ser compartilhado com gatos e outros bichinhos.
Mas saibam que ele tem dona e a preferência será sempre dela.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ele vai comigo

Ele vai comigo. Acabamos de combinar. Vai ser uma festa e tanto, muita música e cerveja. Depois podemos ir ao cinema, aproveitar que está chovendo. Bobagens. Vou pegar um sol e um sonho. Depois faço de conta que toco violão e saio por aí...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Nebulosas

Vamos lá. O tempo passou depressa e eu nada fiz durante esses dias. Admito que o que me faltava era alcool e nicotina. Pronto...está feito.
Depois dessa viagem, eu posso dizer que é improvável o que desejo tanto e só falta despencar da escada e quebrar uns ossos, para tornar a fantasia real.
Vim procurar sossego, mas onde? No sono do gato. No ronco do cachorro. Na campainha que não toca. Na luz de segurança que não funciona.
Ok, hoje acabou, vamos todos dormir. Alguém aí, por favor, apague a luz.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Fim de semana

Hummmm. Fim de semana chuvoso. Votações em pauta. Preguiça de viver... Acho que devo comer alguma coisa, falta-me energia. Ou posso dormir... mas quando acordar o nada a ver continuará. Um dia desses fiz o caminho inverso. Antes de acordar tomei café e antes do café corria. Assim, dizem, evitamos a degeneração da memória.... será?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Latidos

O som é agudo. Mas não corre atrás da gente. Fica ali, parado, agudo, agudo. Tem dias que silencia. Mas volta agudo de novo. O que acontece? Alguém precisa cuidar desse bicho. Ele anda em todo o jardim, ele ouve quem passa na rua e late, late muito. Ninguém liga se está latindo... Só eu fico aqui aflita. Som agudo, medo, pânico. Um bicho doido pra ganhar um cafuné ou um petisco.

Dentro de mim...

A visita foi agendada para as catorze horas. O interfone tocou as duas e um. Atendi, abri a porta e lá fora o segurança esperava em sua bicicleta. Disse a ele que estava tudo bem e o tal moço entrou aqui em casa - garagem, porta de entrada, sala, corredor. Pediu um copo d'agua. Ligou para a firma para concluir o serviço. Ele estava dentro da minha cozinha... E eu olhei pro tênis dele e achei lindo. Subitamente, gelei. Podia ser qualquer um. Podia ser o ladrão, o bandido, o doido. Podia ser até o padre. Dei-me conta de que não tinha idéia de quem colocara aqui dentro... O moço foi embora e eu fechei a porta, tremendo.
A partir de hoje só se entra aqui se o cachorro estiver preso na corrente, bem em frente ao portão. Quem quiser tem que se submeter a passar por ele, abaixar a cabeça e não lhe olhar nos olhos.
É sim, uma ameaça.
Sim, meu cão é uma fera.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Faringite

-"Deixe-me falar! Deixe-me falar!" Foi assim que ela começou ao tentar explicar o incidente. Nada podia ser mais angustiante que ouvi-la, quase sem voz, dizer que foi engano, que não havia mandado nada para a Fernanda e que sentia muito, muito. Tão rouca estava que eu podia sentir seu constrangimento mas não conseguia compreendê-la.
Pedi a ela que escrevesse. Ela desenhou uma bola verde e um lápis. Bem, talvez não fosse um lápis...seria um baton? Ou um cigarro aceso? Enquanto tentava decifrar o desenho ela pegou o papel e amassou com raiva. Achou que eu fazia troça. Saí da sala e fui fazer um chá. Se conseguisse acalmá-la e a sua garganta com uma bebida quente e doce...
Ela foi até a cozinha e sentou-se, esperando. O gato miou por comida e ela fez-lhe um agrado no dorso, que ondulou sob sua palma. Depois do chá, ela chorou um pouco.
Eu, que já sabia de tudo, tratei de sair de fininho...eu e o gato...

Domésticos


O cão espiou o gato que andava devagar.

O gato viu o cão e deitou-se malemolente.

O cão ficou quieto e o gato bocejou.

O cão suspirou e saiu, foi deitar-se perto da cozinha.

O gato por fim entrou em casa, subiu no sofá. Lambia-se todo.

Estranhas criaturas estes animais domésticos...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ele não ouve.




Um gato tranquilo (já sem tremas), sobe sobre a sombra de uma árvore.

Ali se enrosca, espiral dinâmica e dorme o sono solto do que nada sabe.

Ele não ouve e dormindo nem vê que corre perigo, que está sonhando e só.