quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ordem e desordem

Estou lendo "O andar do bêbado", do Leonard Mlodinow.
Também estou organizando por ordem alfabética, a partir do sobrenome do autor, meus livros da biblioteca de aquisições recentes que fica no quarto. São  livros dos últimos dois anos; e são muitos.
Em ordem alfabética, as outras ordens se perderam. . Depois de ajeitados nas prateleiras, senti a força do caos. Ali não há padrões. Cada livro tem um tamanho, uma espessura, cores distintas... eu quase não gosto...
Fiz uma lista desses livros no Excel e agora encontra-se bem depressa qualquer um  que esteja lá.
Descubro que alguns são "estrangeiros", vindos da biblioteca geral que temos no sótão, com mais de quinhentos exemplares. São velhos, cheiram a mofo, têm traças... São aqueles que a memória resgatou e que foram lidos mais uma vez.
Deve ser bom ser lido outra vez.
Mesmo que isso signifique ser Fernando Pessoa e estar ao lado de um tal de Pereira.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Desengano

Acabou o carnaval e você já pode chorar.
Lembre-se de que nada é para hoje, faça com calma para não errar, ou se arrepender.
Se tiver que chorar escolha o debaixo do chuveiro, ali se misturam as águas e ninguém vai saber, a menos que grite.
Para evitar surpresas ligue o rádio e ouça as informações sobre o trânsito.
Pode dormir um pouco, arde lá fora, aproveite a brisa mecânica.
Mas se estiver mesmo com muita saudade, beba uma cerveja e esqueça que existe.
Quando acordar é a hora de rasgar a fantasia, vestir-se com esmero e ir para o trabalho.
Voilá!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Revelação

Havia um tempo em que nos revelávamos  no laboratório.
Ali em preto e branco surgia primeiro uma sobrancelha, depois uns cachos, uns aros de óculos.
E impregnados de revelador nos aparecíamos, como era bom!
Vi um álbum com fotos daqueles tempos.
Éramos novos e tudo era novidade. Ainda vejo novidade naqueles sorrisos e caretas. Talvez porque, ao passar a limpo nossa história, acabamos reparando em alguns detalhes que não temos mais.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vigilante

Em um fim de semana, Miguel e eu fomos ao cinema no fim da tarde e depois ficamos passeando pelo shopping.
Já era noite quando chegamos em casa e nos demos conta de que não tínhamos levado a chave do portão.
Enquanto pensávamos em chamar um chaveiro e todas as implicações incluídas, resolvi tentar pular o muro que tem pelo menos uns dois metros. Usei nossa lixeira enorme encostada no paredão, o Miguel fez uma escadinha com as mãos, eu tomei impulso, subi na lixeira e olhei para dentro do jardim.
Nossa, era muito alto. Achei que não conseguiria impulsionar o corpo para cima mas resolvi tentar já que ando malhando bastante. Não é que consegui de primeira?
Mas a parte mais difícil era saber se o Haus sabia quem estava ali. Estávamos bastante seguros, ele sabe que estamos chegando quando ainda estamos na esquina, mas mesmo assim deu medo.
"-Haus?  Haus???"
E lá veio o bezerrão, língua rosa pra fora e aquele sorrisão cheio de  dentes. Quando me viu de cavalinho no muro virou a cabeçorra de lado, como fazem os cachorros quando não compreendem.
Deve ter pensado no que eu estava fazendo no lugar onde ficam as presas? Gatos e Gambás?
Conversei bastante com ele que mantinha a testa franzida até me lembrar que o melhor sentido do cachorro é o faro.
Joguei meus sapatos para ele cheirar e ele gostou da brincadeira e já ia indo carregando o troféu pro canil.
E eu, bem depressa pulei o muro e no jardim já fui chamando:
-Haus, aqui Haus!!
Decidimos, Miguel e eu, colocar uma chave do portão junto com a chave do carro. 



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Faz uma semana que...

Amanhece e a lousa azul do céu está limpíssima.
Durante o dia, vão aparecendo desenhos e pinturas: carneirinhos, orcas, hipopótamos, que se misturam, se tocam, se beijam, se transformam.
O fim da tarde promete. -"Oba, esta noite choverá!
Mas enquanto dormimos alguém vem caladinho e apaga todos os desenhos, até mesmo os fiapinhos de tinta branca.
E amanhece e a lousa azul do céu está limpíssima...







segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Docinho

Estavam no supermercado e ela queria um doce.
Vovó foi com ela até onde estivera a prateleira de bombons e outras guloseimas. Mas nada encontraram...
Ela puxou vovó pela mão e disse: -" Vem cá, vovó, eu sei onde tem!!" E ao chegar ao universo dos doces, abriu os bracinhos: "- eu não falei, vovó, estavam aqui o tempo todo."