quinta-feira, 24 de junho de 2010

silêncio

o silêncio as vezes precede um tsunami... os bichos sentem; eu também... está silencioso demais...
tome cuidado, sinta o vento, cheire o tempo...
o que se passa...
porque tanto silêncio

terça-feira, 22 de junho de 2010

vinte e dois

Há vinte e dois anos  foi o dia mais intenso que vivi.
Desde então não preciso que me levem, eu vou.
Nem que me animem, tenho o riso frouxo e passo ao largo das frustrações.
Vou correndo, aflita por assisti-la viver.
Como é lindo, como é linda, como é bom!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fragilidade

Foi um momento tenso.
Ela chamou, mas ele queria brincar e fugiu pelo portão entreaberto.
O carro freou bruscamente e fez um barulho irritante até parar completamente.
Na rua, o cãozinho tremia de medo.
A menina foi buscá-lo muito assustada também, mas sentia alívio por vê-lo sem ferimentos ou dores.
Agradeceu à senhora que dirigia o carro, que também estava em choque com o susto.
Entrou em casa e com o cãozinho no colo subiu até seu quarto.
Chorou um pouco abraçada a ele e depois suspirou bem fundo.
Compreendia de forma aguda e absoluta a fragilidade de existir.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Felipe

Pela manhã, acordo apreensiva e abro a porta do quarto. Espero vê-lo no corredor, ver se ele me aguarda.
Dá bom dia, barulhento e vai na frente, mostrando o caminho até a vasilha, vazia de comida.
Reclama da minha demora, sente fome, sente.
Confiro a casa e procuro sinais de seus enjoos e sofrimentos. Se está tudo bem, depois que tomamos café faço com que engula um pequeno caco de comprimido para que possa suportar a próxima refeição.  Tem comido o que quer, ofereço tudo que posso, em pequenas e várias porções durante todo o dia.
Ele sobe no encosto do sofá e fica ali esquentando ao sol. Fecha e abre os olhos, uma fresta apenas e verifica se estou ali. Às vezes me olha tão profundamente que eu não consigo desviar o olhar; devolvo a mirada e tento compreender. De repente vem para o colo e fica muito tempo, se estiiica, apoia o queixo em meu joelho. Atualmente tem preferido ficar quieto no colo, não quer que o toquem como antes. Será que sente dores? Quando compreendi que tocá-lo incomoda, passei a servir apenas de anteparo. Sinto seu corpinho quente em minhas pernas e quero congelar este momento para sempre.
A cada dia mais magro - a metade do que já pesou - e cada dia menos disposto, mas me acompanha pela casa. Ainda quer ir à rua, mas quando abro o portão duvida se sai ou se fica. Acaba voltando para o jardim, onde se sente mais seguro.
Ainda repreende o cachorro, que não liga, nem compreende.
Eu compreendo. E a cada grama que ele perde, perco um pouco de mim.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

Soberanos

Não, nada disso!
Nem fique triste, a tarde está linda e eu estou convidando você para irmos ver as ondas.
Espie as tatuíras na areia e os caracóis fingindo que vivem.
Olhe para trás, para o tamanho do passado, esquecemos mas existiram todos os segundos e as horas.
Estou repleta, estou completa, sei da minha história e gosto dela.
Não vou desistir, mais importante que censurar é poder dizer: Isso mesmo, muito bem, você sabe fazer, você sabe crescer, isso é autêntico, isso é edificante e lindo!
Assim são construídos os soberanos, aqueles que vão reinar.




terça-feira, 1 de junho de 2010

culpa

Este friozinho nublado pede cobertor de preguiça.
Mês de junho, já sinto os cheiros.
Pé de moleque, arroz doce, curau, pipoca.
Nenhuma confissão nos livra dessa culpa  adocicada.