segunda-feira, 7 de junho de 2010

Felipe

Pela manhã, acordo apreensiva e abro a porta do quarto. Espero vê-lo no corredor, ver se ele me aguarda.
Dá bom dia, barulhento e vai na frente, mostrando o caminho até a vasilha, vazia de comida.
Reclama da minha demora, sente fome, sente.
Confiro a casa e procuro sinais de seus enjoos e sofrimentos. Se está tudo bem, depois que tomamos café faço com que engula um pequeno caco de comprimido para que possa suportar a próxima refeição.  Tem comido o que quer, ofereço tudo que posso, em pequenas e várias porções durante todo o dia.
Ele sobe no encosto do sofá e fica ali esquentando ao sol. Fecha e abre os olhos, uma fresta apenas e verifica se estou ali. Às vezes me olha tão profundamente que eu não consigo desviar o olhar; devolvo a mirada e tento compreender. De repente vem para o colo e fica muito tempo, se estiiica, apoia o queixo em meu joelho. Atualmente tem preferido ficar quieto no colo, não quer que o toquem como antes. Será que sente dores? Quando compreendi que tocá-lo incomoda, passei a servir apenas de anteparo. Sinto seu corpinho quente em minhas pernas e quero congelar este momento para sempre.
A cada dia mais magro - a metade do que já pesou - e cada dia menos disposto, mas me acompanha pela casa. Ainda quer ir à rua, mas quando abro o portão duvida se sai ou se fica. Acaba voltando para o jardim, onde se sente mais seguro.
Ainda repreende o cachorro, que não liga, nem compreende.
Eu compreendo. E a cada grama que ele perde, perco um pouco de mim.


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