segunda-feira, 30 de abril de 2012

O corpo

Depois de umas semanas de céu azul, a gente se esquece que o dia pode amanhecer cinza-chumbo. Era uma manhã assim. Lá estava o corpo boiando - preto no azul-piscina.
Os três faziam a ronda durante a noite pelo extenso jardim, pelo campo de futebol ao lado, em torno da piscina. Pela janela era possível vê-los trabalhando,compenetrados em seus afazeres de guardas: cheirar; ouvir, latir.
As duas damas, mãe e filha inseparáveis, deram o alarme.
Da casa não ouviram. Talvez pensassem que se tratava de algum gambá, um gato...
Enquanto retiravam o corpo, pude ver, pesarosa, o pelo lustroso, encharcado, e os sinais de afogamento por exaustão.
Qualquer um que caísse ali e tivesse quatro patas não sobreviveria. Ele deve ter nadado muitas horas. Não era cachorro de se entregar assim por pouca coisa.

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