terça-feira, 2 de março de 2010

Goteiras!

Sempre considerei goteiras um problema social. Imaginava que quando estivesse em melhor situação financeira não sofreria com elas.
As goteiras aconteciam com frequência nas casas da minha vida no interior. As chuvas pesadas, o vento enlouquecido, mangas despencando sobre o telhado, telhas quebradas! Nada mais natural que goteiras. Fazia parte colocar panelas para aparar os pingos ou jorros dependendo da intensidade do evento. Um pano em volta da bacia também ajudava com os respingos. Muitas vezes era preciso deslocar a cama para não acordar sob o efeito da tortura do pingo sobre a cabeça. Quantas vezes vi lâmpadas acesas com água dentro, pela metade, como pode? Para mim era o próprio coquetel Molotov. Dava medo.
Depois da estação das águas, lá pelo fim de Março a chuva dava um tempo, os telhados secavam e era possível trocar as telhas quebradas; os quartos com o assoalho manchado iam ficando menos úmidos.
Puxa, tinha sido um pesadelo, bastava balançar a cabeça e esquecer.
Até começar tudo outra vez.
Depois que me casei, passei muitos anos livre delas - morava no sexto andar de um prédio de dez e o que torturava era a infiltração pelo cano corrompido do vizinho de cima.
Apesar de às vezes o vasamento ser pelos canos do esgoto, era menos humilhante.
Isso mesmo, goteiras são humilhantes! Acaba com a auto-estima até do pavão.
E hoje, que tenho um marido adorável, uma filha queridíssima e uma casa linda, cá estou de novo às voltas com as malditas.
Chove no quarto, chove na sala, chove no banheiro, no lavabo, no sótão.
O som dos pingos que muda de tom de acordo com o preenchimento da vasilha - de metálico e raso passa a gordo e profundo - é quase tão ruim quanto o som dos primeiros pingos de goteira no sinteco. Som seco e definitivo. Tec.....tec.....tec... Não há dúvidas. Goteiras!
Começo a compreender que elas são gotas divinas, uma espécie de remédio celeste para tratar a arrogância que às vezes adoece o coração.

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