Não voltou, morreu sem amálgama, sem coroa, sem nada.
Amenidades
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Amalgama
Não voltou, morreu sem amálgama, sem coroa, sem nada.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Meio dia
Manhã de tráfego intenso neste
cubículo infernal agora, as onze horas,
outros virão para o almoço e outros cheiros mornos e molhados entrarão nas
sacolas, misturas de sabores de cada andar onde comentam a novela e o tempo e
também impregnam de miasmas intestinais um espaço destinado ao publico popular.
A velha que finge, entra cigarro aceso e faz questão de dizer que não sabe que
não pode fumar no elevador que é publico então pode, mas é fechado, mas abre, e
o cheiro barato do pito e seu cheiro de barata arrependida, pequena bruxa
desencantada dos contos, ela sabe que será julgada bem depois da inquisição.
Para ela isso é o que importa porque criar impasses está nas veias desde a
adolescência hippie pop agora tão velha como as tarântulas em suas teias, tece
qualquer coisa que a distraia, para rir depois sozinha, das proezas do dia e já
pensa no próximo ciclo que de desconstruções sobrevive. No Zênite, franze o
nariz em seu esgar risonho, brilham os olhos dessa formosura em decadência. O
distraído agoniza, desespera, pena. E ela nem desconfia que incomoda mais do
que planejara porque será eterna na memória indestrutível do aço inox.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
pedaço especial
Acordou com dor de garganta, dor
de garganta, olhou no espelho colocou a língua bem pra fora, nada enxergou,
buscou a lanterna e olhou de novo. Nada. Deu de ombros passou batom e saiu,
apertou o botão do terceiro andar e Aninha não estava pronta.
Depois saíram as duas rindo à beça,
não sei de quê. As duas iam ao casamento à noite, e sapatos eram o que faltava.
Mas que sapatos, difícil acertar, sapatos de salto, brilhante, sandálias, da cor do vestido, da cor da pele, olhar e ver o que mais combina, nunca é o mais
prático. Depois das compras ela foi ao pronto socorro, cismou com a garganta, doía
doía doía: examinaram - mas não é nada, é vírus! - uma
dor de lascar - tome essa injeção e observe, se piorar volte. Voltou, não foi
ao casamento, desistiu. Chegou ao hospital para a internação, era grave era urgente, ficou a
tomar antibióticos, antiinflamatórios e outros órios e óticos que curam ites; às
vezes perdemos casamentos e festas ótimas, vamos passear no hospital, é tão
divertido, gente doente, caras boas, tudo muito sortido e sem caráter a não
ser o sentimento de não estar bem ; procuramos quem entende do assunto, um
mecânico para um carro, um vendedor para um sapato e ela o hospital como todos
ali, gente nova a todo momento e os atendidos encaminhados, para casa, e depois
voltar, ou o casamento, e depois casar, ou sair pelos fundos.
Sei que ela vem, tenho certeza que vem talvez vá só à recepção muita gente faz assim, vamos dançar a macarena, ou a rumba; mas como posso ir assim, agora que me internaram, puxa nem sabia que estava tão mal existe tanto que a gente nem desconfia, mas ficarei bem e farei uma surpresa especial a eles, ela vai compreender ainda que fique triste porque não fui; amigas de infância, desde que a conheci e perguntei de que era feito seu cabelo vermelho e ela riu, deu um sorisão para mim e me abraçou vamos logo para a gangorra, de assentos vermelhos e cordas, nossos sapatinhos de verniz vermelho lá na frente e lá atrás, brincávamos de roda, de pique e de casal e logo no casamento eu, logo no casamento dela, quando senti não dava, e ela vinha correndo para descer ao porão e desencantar umas pedras e tralhas estranhas a que dávamos sentido exótico e especial, depois as bruxarias e compromissos de sangue; no casamento ou no hospital.
Sei que ela vem, tenho certeza que vem talvez vá só à recepção muita gente faz assim, vamos dançar a macarena, ou a rumba; mas como posso ir assim, agora que me internaram, puxa nem sabia que estava tão mal existe tanto que a gente nem desconfia, mas ficarei bem e farei uma surpresa especial a eles, ela vai compreender ainda que fique triste porque não fui; amigas de infância, desde que a conheci e perguntei de que era feito seu cabelo vermelho e ela riu, deu um sorisão para mim e me abraçou vamos logo para a gangorra, de assentos vermelhos e cordas, nossos sapatinhos de verniz vermelho lá na frente e lá atrás, brincávamos de roda, de pique e de casal e logo no casamento eu, logo no casamento dela, quando senti não dava, e ela vinha correndo para descer ao porão e desencantar umas pedras e tralhas estranhas a que dávamos sentido exótico e especial, depois as bruxarias e compromissos de sangue; no casamento ou no hospital.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Outro pedacinho...
Aperta o botão do terceiro andar,
olha-se no espelho, está mais redonda e radiante. Faz 2 meses que não aparece,
a academia é a mesma, a música, a recepcionista, tudo. Entrou e a receberam com
alegria, está sumiiiida! É que estou grávida, estou grávida de 4 meses, por
enquanto não posso fazer exercícios; conte como foi isso! Foi assim estava
namorando e a camisinha, era tabelinha e camisinha e aconteceu, menstruava e
rasgou. Então
já não estava mais namorando e pensei, porque não, se posso sustentar minha criança,
posso ter meu bebê, tenho independência, trabalho e sou feliz, independo, posso;
mas o namorado voltou atrás, quis ficar, quis voltar, então disse a ele, contou
a novidade, depois de terem reatado ela contou a novidade e - você é quem sabe
eu sei de mim e do meu filho, sinto muito mas é isso, é a vida, é a vidinha e
eu vou em frente. Estão morando juntos e ela está alegre, serena e não pode
fazer exercícios pesados por enquanto. Ela sente falta e exibe a nova tatuagem –
oath - e o cabelo tem pontas roxas como sempre. A casa de festas está bombando,
seus peitos estão bombando e ela quer mais é que o mundo se dobre aos seus pés.
Prefere uma menina, para ensinar a ela sua dança. Eu que ouvia tudo, curiosa,
imaginei a cena – mãe e filha sincronizadas na pole dance da vida, sensuais,
fortes e vigorosas, no ritmo naturalmente cadenciado de quem tem postura e
determinação. Quando foi embora eu queria dançar.
domingo, 14 de novembro de 2010
para degustar...
Devíamos poder decretar -
quero morrer hoje- como se fosse comprar no mercado um quilo de carne para churrasco amanhã ao
meio dia. Deixo pago, tudo organizado, mande entregar.
Assim, sabendo quando e como, a
morte deixaria de ser um mito, seria casual como uma limonada. Adoce para mim,
gosto de açúcar, nem sou diabético. Melhor com gelo e lascas de limão, para
alegrar os olhos e aguçar os sentidos, quero minha limonada com limão galego,
nada de limão da china. Faz favor de jogar o bagaço e as cascas no lixo
especial que será queimado e transformado em pó. Assim passarei daqui para ali
sem mistérios, com a tranqüilidade de quem já viu demais e se despede sem
mágoas. Cansei de ouvir o estalar do elevador. Tarde da noite e a meninada
chega sem escrúpulos, os pais já dormem e a moçada mora para sempre na casa dos
pais e o barulho do elevador, que traz e leva as risadas histéricas das meninas
bêbadas e dos rapazes malemolentes, querem viver assim na flauta e depois vão
querer morrer com dignidade, aquela que não tem e nem vão ter a tempo. No meu
tempo de moço era 18 e cai fora vai ganhar a vida, quem ficar era o bobo, logo
namorada, noiva mulher, vai se sustentar vai trabalhar e traga algum dinheiro
para a mãe, para o pai, depois pode fazer seu ninho, crie filhos que te turvarão
os olhos quando adoecer, que te negarão o colo quando faltar, que cobrarão com
juros os erros que nem sabia que fez, pobres; querem viver e a morte vem a
galope, quem acha que demora está enganado, eu que me demoro demais e fico
noite a noite na espera de que a morte
me leve no sono não quero saber que fui, porque no começo nem pensamos, viver é
complicado, o tempo vai passando e lá pelas tantas vem a dúvida e a certeza –
vou morrer, um dia vou morrer, estou morrendo faz tempo e nem sabia, vou morrer
e não sei quando, será hoje? Não, não foi hoje, será agora, não, nada ainda,
vou ter que esperar; tenho tantos anos nem sei quantos, estou sem porque, estou
cansado e sem porque, preciso que ela venha mas tenho medo, tenho coragem mas e
o medo, daquilo que desconheço, do outro ser que serei ou não por isso um monte
de pó, que não quero a alma perdida que minha alma vire pó também; é preciso
pesar o corpo e depois o pó, temo que o pó seja ligeiramente mais pesado que o
corpo seco por causa da alma, umas graminhas de nada a alma deve pesar, talvez
fique aprisionada no pó e fuja pelo vento quando espalhamos, tenho medo de ser
espalhado e me debater àtoa pelos telhados e casas, virar o pó que trazem da
rua e limpam no tapete -bem vindo- antes de entrarem no elevador, quando jogaram fora os cinzeiros dos prédios muitas
almas devem ter sido expulsas daqueles caixoezinhos de metal e sem tampa,
talvez se as transformaram em x as almas se amalgamaram ao x; e presas estão dentro das casas, as almas são
os olhos dos objetos, principalmente aqueles de metal reciclado, ficam lá olham
e olham e a gente da casa pressente alguém está ouvindo, parece que nos pegam
no pulo, pare com isso está me machucando e vai olhando desconfiada pelos
cantos, os objetos de metal tão frios, sua essência são as alminhas.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Gargalhada
Perdi um pouco da graça e olho no espelho de relance apenas.
Muitas pessoas me dizem - mas você não mudou nada depois que ficou meia-boca.
Acho que fazia uma ideia um tanto insuflada da minha imagem, eu me achava bonita....
Não é como doar um rim... é como vender a alma, a você sabe quem.
Quando meu bem me diz que sou sempre bonitinha, quero mostrar meu lado risonho, gosto quando reparam. Ele também insiste em me dizer que sou bonitinha de qualquer jeito. É que ele gosta muito de mim, esta é a única explicação.
Um dia desses, vou acabar acreditando.
E por fim vou dar uma grande risada, uma gargalhada, daquelas de bebê com cócegas.
Dilema
A cruz concentra o que a espada aponta.
Cruz é para míope e mais perto preciso estar.
No espaço da espada estão as estrelas, você inclusive.
A cruz diz aqui, a espada questiona, onde.
Uma cruz termina o que a espada anuncia.
Sei la, às vezes e se eu pudesse, comecaria tudo outra vez.
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