sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Búzios

Entrou no apartamento com um medo danado desses boicotes desumanos, quer trabalhar e não deixam, quer viver e não deixam droga, ser rica e não precisar trabalhar, tive que me virar, me sustentar, meu pai um triste, minha mãe uma coitada eu saí de casa bem cedo, determinada saí e fui pra rua comi o pão lá do diabo agora sobrevivo se não me confiscam tudo, sobrevivo até com prazer. O apartamento é muito pequeno, um quartinho e a salinha com uma cozinha acoplada, nem área de serviço, imagine máquina de lavar, nada disso, eu e Mariana que joga búzios na praça, ela consegue um bom dinheiro e dividimos as despesas, quase nada, vivemos para sobreviver, quer ler minha mão e jogar-me os búzios, não quero saber de nada, não tenho sorte nenhuma, não quero ler minha sorte, já a conheço bem. Ela me olha como se soubesse, leu minhas cartas à revelia e olha para mim como quem sabe de tudo, nem ligo pra isso, mas aquele olhar estranho me intimida, daí prefiro não encontrar com ela; se entra eu saio se sai eu entro, ela de elevador e eu pelas escadas, assim conversamos por post it, pregamos num pregador para que não saia voando e deixamos sobre a mesa...

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