quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mendigo

O mendigo, coitado vive na esquina dorme ali e come os restos da padaria, dizem uns que era casado e feliz até que sua mulher largou dele por outro; começou a beber, era trabalhador, era brasileiro, trabalhador, lá da Bahia veio morar em São Paulo, era servente, depois ajudante de pedreiro e aprendeu a reformar sofás, então trabalhava muito e era tão feliz, naquele dia  bebeu até o dia seguinte, invernou, há quem diga que a mulher largou dele por que já bebia demais ela não suportou, que ela fugiu com outro todos concordam, se foi bebida antes ou depois é que ninguém sabe, também ninguém atenta para a vida dos pobres todos querem que o serviço seja feito, se atrasar é que vão reclamar e as vezes reclamar tem conseqüências terríveis, porque pode detonar um inferno, contam que o rapaz  invernou e a mulher teve que trabalhar para terminar o serviço que não ficou muito bem feito ela não tinha as manhas da coisa, reclamaram do atraso, depois do serviço porco, depois da falta de alguém para atender, depois do bêbado transfigurado que ficava escornado lá num canto cheirando a vômito. Aquela dona tinha encomendado a reforma do sofá assim do nada, era um bom serviço, bem pago mas tinha que ficar perfeito e ele não conseguiu, a dona queria que entregassem em sua casa, ele perguntou se tinha elevador e tinha, então prometeu levar no sábado quando concluísse o acabamento; sua mulher nada sabia, esperava que fossem buscar aquela marmota e nada,  precisava do dinheiro; se bem que não tinham filhos poderiam se virar de qualquer forma eles viviam bem desde os tempos de Bahia que ela gostava dele, mas agora nem me fale, nem me fale, que vou embora daqui e largo tudo vou largar tudo e deixar este frouxo as traças, em seu vomito fedido ele era bom mas sempre teve uma queda, por mim e pelo gim, qualquer coisa, no final, beber a torto e a direita, bebia até perfume quando não podia beber outra coisa o álcool consumiu seu fígado destruiu suas verdades e ele esqueceu que pode-se ser feliz, ou não só depende do sujeito. A dona veio fula perguntar pelo sofá, falava com um sotaque esquisito, francês não era, japonês, é japonês ou chinês, ela era nipônica demais e estava pisando nas tamancas furiosas, estava  brava pra caramba; então largou tudo lá e foi-se embora com o porteiro do prédio, em frente que já queria largar aquele serviço porque nunca gostara de elevadores e  havia 4 que sempre encrencavam, ele queria voltar para a Bahia e plantar coco, ela achou perfeito e foram, tudo ficou abandonado,  estopa e panos , frangalhos de pano, a maquina de costura numa solidão de dar dó, a lâmpada esquecida acesa e assim ficou até que acabou seu tempo de vida útil e o mendigo babado ia ser preso, porque recebeu adiantado pela reforma do sofá,  desistiu, desistiu completamente e passou a viver na esquina foi despejado do pequeno porão onde trabalhou tanto. Nunca mais seria baiano de novo, nunca mais brasileiro, nunca mais humano, era um bicho, um bicho acuado e fedorento, deixem-me deixem-me , todo mundo conhecia, passavam por ali e davam comida ele comia, porque não, comia e depois dormia e acordava e ia beber, comprava pinga e misturava com limão estava acabado; até que parou de respirar foi visto frio, gelado e morto, acabou-se.

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