terça-feira, 22 de março de 2011

Passar roupas, uma questão

Quando a Graça sai em férias, mais ou menos nessa época do ano, cuido de tudo sozinha aqui em casa. É bom que revejo os cantinhos da casa e tento facilitar de alguma forma o trabalho dela. Por exemplo, ano passado descobri que uma mesa pesada que ficava em cima do tapete, atravancando tudo e sem nenhuma utilidade, poderia ser colocada de lado.  Também descobri novas formas de iluminar a copa com luz natural e aumentar a ventilação da cozinha.
Gosto de cuidar da casa. Adoro limpar, organizar, lavar. E mais do que tudo adoro cozinhar! Fico bem feliz entre as panelas e o calor do fogão, invento à beça!
Mas tem uma tarefa importantíssima no dia a dia de que não sou capaz! Passar roupas!
Algumas pessoas tem esse dom, eu só me desespero.
Hoje resolvi encarar as camisas do Miguel. Nossa, como estão gastas, ele precisa com urgência renovar o guarda-roupa. Conferi botões, armei a tábua de passar em uma posição confortável para mim, aspergi as peças com "passe bem", liguei o radio de pilhas e comecei. Tinha decidido que hoje faria tudo com o maior capricho e calma. Mesmo que só conseguisse passar duas, se ficassem boas, já estaria ótimo. Lembrei-me que a Tice certa vez tentou me ensinar a passar. "Faz assim, foi o Edmur quem me ensinou e ele aprendeu com a dona Rosa!"
Primeiro passamos as costas - são as que menos vão aparecer e mesmo que fiquem um pouquinho amassadas, não tem tanta importância. Depois são as mangas e depois a frente:  primeiro a parte que tem os botões e por último a parte das casas que é a mais externa de todas e a que mais chama a atenção. E a gola? Não me lembro quando...
Começo pelas costas, vou desamarrotando de baixo para cima e tudo parece ir bem, até que chego perto da gola e começa a encrenca. Passo aqui, amarroto dali, tudo fica cheio de vinco, feito papel amassado. E quanto mais tento tirar os amassados do ferro mais confusa fico. Resolvo passar só a pontinha do ferro em um dobrado e assim que consigo e estendo a camisa já fiz outro três dobrados, nas partes da frente, tão importantes. As pobres mangas a esta altura são um origami e nunca consigo fazer um vinco só entre as partes da frente e das costas delas.
Suspiro, começo de novo. Jogo "passe bem", checo a temperatura do ferro em um dedo distraído; ai, droga;
e lá vamos nós para outro round. Depois de uns quarenta minutos com a mesma camisa, penso na Renata e quero fazer como ela - deixar a roupa ali, apaziguando sobre a tábua e ir fazer qualquer outra coisa mais agradável. Aliás, qualquer outra coisa.
A minha frustração é tão grande que coloco a camisa no cabide e nem olho mais para ela.
Pego a próxima. "Não, dessa vez vou fazer direito, tem que dar certo," penso com energia.
Parece que consegui passar pelas costas e vou indo em direção a segunda manga. Nova catástrofe. As duas partes da frente me aparecem completamente vincadas, que maravilha! Desta vez apelo! Coloco a camisa dentro de um balde de agua limpa e ela volta pro varal.
Cumulus nimbus escureceram a tarde e são só duas horas. Concluo que não estou enxergando bem, acendo as luzes, coloco os óculos e começo outra camisa. Desta vez destruo o botãozinho da gola.
Ô, tristeza! Levo logo as que consegui deixar mais ou menos passadas para o closet e volto para a diversão desta vez com alguns inofensivos e co-retos panos de prato.

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