sexta-feira, 1 de abril de 2011

Vida de cachorro

Tenho um péssimo hábito. Vivo para beliscar. Nem que seja um talinho de aipo, preciso ter certeza de que alguma coisa comestível está me aguardando para os lados da cozinha. Bebericar então é uma necessidade. Felizmente posso beber chás de todos os tipos sem açúcar ou adoçante; e café, também puro.
A nutricionista ensinou: Coma de três em três horas e não pule as refeições. Então, tá! De três em três faço refeições e nas outras horas belisco. Hoje compreendi com clareza este vício animal. É que meu cachorro, que fica com a cara apoiada na soleira da porta, olha para mim vivamente cada vez que venho da cozinha. Que  nada, ele olha fixamente para as minhas mãos!!! E o mais incrível: se venho do quarto ele fica impassível, bochechas escoradas. É fácil treinar um cachorro. Basta ir fazendo o que ele quer. Atualmente, como não passeamos mais pelo condomínio, a vidinha dele é bem medíocre. Acorda, comida. Deita. Carinho do patrão. Bochecha na soleira. Carinho da patroa saindo para correr. Bochecha na soleira. Patroa de volta. Rabinho a mil. Levanta e espera que eu volte da cozinha. Come o pedaço de banana. Eu também. Bochecha na soleira. Cochila. Sonha e uiva. Haus?! Ele acorda. Olha para minhas mãos. Vazias. Bochecha na soleira. Volto do quarto, ele nem tchum. Venho pro computador. Ele dorme de novo. Acorda e vai até ao portão. Lata, late, late com algum vizinho besta que vem atiçar a fera. Brigo com ele. Ele pára de latir, dá uma mijadinha na roseira, suspira e volta pro travesseiro-soleira. Venho da copa e ele boca um bago de uva. Volto pro computador. Confiro meus emails, escrevo um pouco, visito meus sites preferidos, tomo uma coca-cola e vejo que o tempo está mudando. Para o cachorro tanto faz o tempo. Vou de novo até a cozinha, abro a geladeira, vasculho, droga, preciso parar de comer toda hora. Volto contrariada. O cachorro olha fixamente para minhas mãos e constata. Nada dessa vez. Espreguiça, volta pro cochilo, agora de barriga para cima, patas ao léu. Não resisto e vou até lá fazer carinho e falar com ele. Depois sob protestos caninos, levanto e vou lavar as mãos e de novo passo pela cozinha. Desta vez um pedaço de queijo. Venho comendo e jogo para ele dois pedaços pequenos, só para vê-lo tentar pegar os dois ao mesmo tempo. Dou risada. Ele cata o que caiu e come com prazer. Na próxima pausa vou comer um pedacinho de chocolate. Ele vai olhar com esperança para minha mão e me acompanhar até  eu passar em frente a porta e continuar em direção ao sofá.. Ele tira os olhos de mim e volta a cochilar. 
Esse cachorro tá gordo...
Nesta minha vez de suspirar concordo com tristeza com o poeta:
Eta vida besta, meu Deus!

Um comentário:

Letícia disse...

Tia, sou igualzinho a você. A única diferença é que não tenho um cachorro pra me ver passar com os meus belisques.

Beijo, Lindo texto. Letícia