Ela no meu colo e a gente conversava. Então ela tinha uma ideia. Escorregava devagar, de cabeça para baixo, entre as minhas pernas e eu a segurava firme; via o chão muito próximo daquela adorada cabecinha cheia de cachos ao contrário. Ela dizia:
- Vai nascer...
- Vai nascer...
Não sei qual era o raciocínio. Por que ela escolhia um ou outro bicho; aquele animal, naquela hora. Nunca soube. É provável que ela também não saiba.
O fato é que saía de mim um cavalinho, ou um gatinho, ou um cachorrinho, um urso...às vezes até pintinho nascia.
Depois que ela contava quem ia chegar, soltava-se e eu a segurava ainda mais firme para que deslizasse em segurança até o tapete da sala. Não havia choro, ela apenas fingia ter recém nascido.
Dai era pegar meu bebezinho no colo e fazer de conta: que lambia, que mordiscava, que afagava, dentro do abraço curioso e apaixonado com que as mães brindam seus filhotes.
E assim ela foi crescendo, eu também, em meio aos bichos recém chegados.
Naqueles tempos não sabia ainda que reviver a emoção do nascimento e dar continuidade às várias espécies, nos tornava mais humanas, mais sensíveis e infinitamente mais próximas.
Um comentário:
Lindo Tita
Bere
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