Quando ela sumiu pelo corredor, de braço dado com o empregado da
TAM, esperei um pouco, pensando que a veria de volta ao meu abraço para
despedir-se novamente. Mas ela tinha ido embora de verdade, mais uma vez.
Enquanto me dirigia
para o estacionamento do aeroporto, ainda queria dar o braço para o ser, agora
invisível e fluido que me deixara.
Vaso de porcelana
antiga, precioso, frágil.
Parece que qualquer trepidação, ou algum sopro, pode craquelar sua
estrutura, mas mesmo assim, segue em frente e caminha.
Conta histórias de seus filhos, a minha história; e se emociona
como se tivesse acontecido ontem; e somos quase todos cinquentões.
Trabalhou cada centímetro de uma toalha de crochê belíssima que
herdei e que estava cheia de machucados e roturas. Enquanto, com agulha fina e
linha branca, cerzia e caseava, ia
dizendo: - É muito delicada, lave à mão, nada de ferro, nada de máquina, sem
alvejantes.
Depois me conta como era teimosa; como é teimosa e eu tenho no
sangue e no coração a certeza disso.
O tempo vai engambelando sua teimosia, agora vai devagar e se
cansa depressa.
Está muito pequena e magra, e eu – grandalhona. Nossos cabelos
estão tingidos com Henna da mesma cor, então às vezes nos confundimos.
Será dela ainda este fio em meu casaco?
Será meu esse fio que encontro em seu travesseiro quando vou
trocar a roupa da cama que ela deixou?
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