segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vai passar, filhinha, vai passar.

Quando minha filha era um bebezinho de dois palmos e 3 quilos, em tempos de cólicas, eu a embalava devagar, apertando sua barriguinha dolorida contra a minha, tentando aquecê-la e esperava.
Cantava e falava com ela durante todo o tempo da cólica, que em geral acontecia no finalzinho da tarde, quando começava a escurecer.
Era muito sofrido para nós duas, mas a dor maior era a dela.
Desde então compreendi que vou passar com ela todas as dores que lhe aparecerem pela vida, enquanto eu existir, talvez até mais.
Porque enquanto somos filhos, tudo somos nós.
A maternidade amplia exponencialmente os complexos dessa relação tão desigual, quando dispomos de poder sobre a vida e a sobrevivência. Embalados em nossos sentimentos, em nossos braços, os bebês se alimentam do que recebem, seja leite, afeto, tristeza, dor...
Mas existe o reverso dessa experiência.
É quando as mães se tornam idosas e precisam de ajuda. Cada filho quer seguir com sua vida adulta, cada um tem suas próprias rotinas e as mães ficam lá esperando de novo por nós, desta vez sem tanta expectativa, já que nos conhecem bem.
Esperam e esperam.
E quando sofrem, quando sentem cólicas ou outras dores, só nos resta  mesmo abraçá-las, ampará-las e ir dizendo em seu ouvido, compassadamente: -"Vai passar, mamãe, vai passar".

Um comentário:

Renata disse...

Titinha,

Que coisa linda! Comparar os dois extremos da vida com a experiencia que voce mesma ( e todos nos, irmaos) esta passando eh coisa de genio!

Emocionante. De novo!

Beijos,