quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tarde de domingo

Tenho a minha frente uma fotografia adorável, clique da Irina, minha boa amiga de São Paulo, dos tempos da faculdade.
A foto mostra em primeiríssimo plano do lado esquerdo, um poste e um tronco de árvore, que  "emolduram" e dirigem o olhar para o restante da cena. Tanto o poste - vertical, quanto o tronco que está deitado na horizontal atrás do poste,  tem ranhuras e  relevos, luzes, manchas, alguma sombra fugidia e uma definição marcante. À medida em que o olhar se desvia para a direita vemos ao fundo uma parede também manchada com pixações em tons vermelhos. Há a sombra de um objeto que não vemos, uma árvore ou um arbusto. Pinceladas de cor aqui e ali aparecem nos tons róseos e acinzentados da pintura envelhecida da parede.  E então mais uma vez emoldurada, desta vez pela esquadria  vermelho vinhosa de uma porta branca  que tem vários recortes na madeira, observamos uma criança de uns sete anos, que veste calça jeans e um blusão que temporiza o outono frio da Argentina. Ela está em uma bicicletinha rosa e inicia o movimento de pedalar. Quase não vemos suas feições, seu perfil está voltado mais para dentro do quadro, (e de si mesma) e a pesada cabeleira presa em um rabo de cavalo frouxo a mostra concentrada e livre. Toda a atmosfera da foto é de uma aconchegante e bem vinda solidão. 
Não me canso de olhar e descobrir nuances de cores, parece-me até que as sombras se movem e a menina foi aprisionada em seu momento de equilíbrio estático.
Mostrei a foto emoldurada para minha funcionária. Ela virou ligeiramente a cabeça e comentou.
-" Olhando assim até parece a Helena..."
Deve ser por isso que a fotografia me enfeitiça tanto.
Ou então é pela fantástica composição de luz, sombra, movimento e pequenas variações de cor que sempre me fascinaram nas pinturas, bem mais fáceis de criar que em um instantâneo.

Um comentário:

Dicovstando disse...

Nossa...sem palavras...