Estremeço sempre que penso em todas as
boates que frequentei, nos bares, jantares, festas infantis.
Viajar de avião:
Quem nos leva é um grande desconhecido, qualificado, mas uma pessoa. O que nos
leva é um instrumento, revisado por outro desconhecido, também humano. Olho
para trás e me surpreendo de ter escapado tantas vezes de possíveis
catástrofes, ou acidentes banais pela vida afora que poderiam ter mudado o
curso do meu rio.
O destino, este pecador mortal, parece
brincar com a nossa sorte, é aleatório, impessoal. O destino resolve:
- Agora vou escolher... Aquela moto
amarela. Pronto!
Um rapaz atropelado, talvez com sequelas,
talvez dependente, melhor morrer.
E se quem dirige este ônibus, que
transporta passageiros de pé, esteve insone, tomou um remédio de tarja preta,
fora do prazo de validade, que a mulher encontrou na gaveta da patroa e decidiu
experimentar.
Quem sabe com quantos me encontrei pelas
ruas, quantos cumprimentaram de passagem e já embarcaram?
Agora que temos todos mais tempo para
viver, talvez devêssemos alinhavar nossas páginas já lidas, todas juntas.
Jamais voltar a ler o que passou, não
bisbilhotar nas entrelinhas.
O susto de ter sido dispensado pela sorte
tantas vezes poderia ser fatal.
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