quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A hora da partilha


Nem bem a Nona  exalou pela última vez seu elaborado suspiro, a Nora e a filha mais Nova se engalfinharam às portas da funerária.
- Nova – disse a Nora – A Nona me presenteou com aquela baixela de prata que fica sobre o aparador faz dois anos, tá? 
- Eu, hein, não me lembro de ela ter falado nada... 
- Juro por esses olhos que a terra há de comer!
- É relíquia da família, e só sai da casa por cima do meu cadáver!
Era tamanha a presença da morte, que ali não se falava sobre outra coisa.
Depois do enterro, olhos cobiçosos variam cada centímetro da propriedade.
- Essa porcelana inglesa, esse jogo de jantar é meu!
A Nora e a Nova, cada uma a segurar por uma alça da sopeira, por fim deixaram-na cair e se espatifar no porcelanato.
Muitas cacos depois, cada uma juntou seus trapos e foi chorar num canto, saudosas da matriarca que era um verdadeiro rei Salomão.

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