Lá em casa o telefone era o centro do mundo. Sempre que tocava, muitos iam correndo atender, mesmo sem estar esperando uma chamada. Éramos barulhentos e alegres.
Visitei muitas famílias e nunca vi a mesma cena. Em geral o telefone tocava várias vezes antes de reclamarem: - "alguém atende este telefone, pelo amor de Deus" - sem sequer sairem do lugar.
Lá em casa se as ligações aconteciam durante uma refeição (que eram seis, pelo menos) todos participavam indiretamente das conversas, sem maldade, apenas porque interagíamos e estávamos tão próximos.
Quem estava ao telefone e queria privacidade, podia no máximo ficar de costas para a mesa ou girar para a parede do lado da cozinha e dividir a conversa com a empregada da vez, bem pior...
Atualmente minha filha sente a vibração do celular, levanta, pede licença e vai para qualquer lugar da casa atender e resolver seus assuntos. Nada de centrista. Nada de conversas compartilhadas.
Não faz tanto tempo assim, andar falando e gesticulando sozinho pelas ruas era caso de hospício.
Agora muitos caminham, correm, pedalam pela ciclovia falando pelos cotovelos; ninguém liga; mas eu procuro sempre o quase imperceptível fiozinho que sai da orelha e se perde dentro da roupa de fitness.
Gosto muito desta mobilidade. De poder estar colocando a roupa na máquina e proseando com a mamãe ao mesmo tempo. De poder saber notícias do mundo, de dentro do carro, durante uma viagem.
Mas o melhor de tudo mesmo é não mais depender de uma tal de centrista!