domingo, 30 de outubro de 2011

Doidos varridos

Cada vez mais encontro zumbis pelas ruas e calçadões!
São pessoas de todas as idades e raças, mas as mais perturbadoras para mim, são aquelas que se parecem comigo. Altos, meia idade, mulheres ou homens, com ou sem cachorros, se exercitando na rua.
Às vezes em lamentável estado de decomposição hidro-cremosa pelo sol adstringente, ou ainda sequinhos  iniciando a caminhada ou nos alongamentos para a corrida.
Todos tem a marca dos zumbis:
Falam sozinhos!
Houve um tempo e nem faz tanto tempo assim, que falar sozinho e gesticular no meio da rua era alucinação!
O doido mereceria internação ou cuidados intensivos;  exames gerais e  pesquisas na família para se descobrir de onde vinha a loucura.
- É da sua família, dizia um parental.
- Nada disso, minha família já tem o câncer, a loucura vem da sua!
O doido, jogado de um lado para outro, ficava envolto numa atmosfera ainda mais profícua e alucinava ao bel-prazer.
Depois a gente perdia o rumo dessas histórias na cidade e os doidos se sedimentavam neste papel ou eram curados.
Atualmente os malucos são logo reconhecidos e tratados, não ficam por aí envoltos em mistérios.
Por isso chamo de zumbis os seres que agora vejo.
Vem rápido em minha direção, olhos bem abertos, gesticulando e falando, muitas vezes vociferando e eu  apavorada só descubro neles  um incipiente fone de ouvido, quando cruzam por mim e nem me  ligam.
Então relaxo e continuo eu também cantando a música que ouço, ou discutindo o cardápio do jantar com a cozinheira lá de casa.
Eu também sou um zumbi moderno, não me levem a mal.


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