Uma menina brinca com sua bola colorida, que
rebate na parede e recebe de volta e vai declamando a sequência de eventos, sem
pestanejar. Quando a bola cai, busca e em seguida recomeça.
No canto da sala uma boneca de olhos
esgazeados mira sua dona com descaso. Está ali frouxamente largada desde a
primavera. A poeira depositou-se sobre os cabelos de corda, e um pé está roto e
desmanchado.
A menina nem olha para o brinquedo que
ganhara de Viviane.
Combinaram de cuidar juntas do orfanato de
bonecas, planejaram tudo.
Então Viviane partiu. Disse:
- Vou-me embora para Florença, não vamos nos
ver mais, adeus.
A menina sentiu bem fundo a tristeza de
separar-se e de ser quem fica.
Viviane não vai voltar.
Um dia vai pegar a boneca e juntá-la às
outras. Muitas bonecas reunidas, diferentes e iguais não são um orfanato?
Para ela, sim.
Mas para Viviane, este tempo de bonecas já
passou. A família levou-a para longe. Por ela até ficaria... Agora, tão longe,
nem em sonhos se recorda do compromisso que assumira.
A pequena pega a boneca no colo e a abraça,
cantarolando. Ela perdoa Viviane que nunca soube que doía tanto, que nunca
compreendeu o que é uma promessa.
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