sexta-feira, 13 de julho de 2012

Razão


Esfregava as mãos. Estava frio, mas era o estresse que manipulava seus dedos. Não tinha para onde ir; e a escadaria do fórum era grande demais, as portas muito imponentes, de mogno. No corredor ia e vinha e dissimulada, encostava um ombro ou outro na parede. Se pudesse ser invisível – ela quase era – talvez sofresse menos.
Muitas mulheres vistosas de terninho e escarpim circulavam com rapazes ou senhores formais ou austeros.
Por trás daquela cortina havia um entreato.
Na luta pela guarda da criança quem menos a queria era a genitora.
O filho recém-nascido foi cedido à senhora que por mãe se tomaria até que a outra, desregrada, fosse libertada.
Seriam os laços genéticos intensos o suficiente para que ele a descobrisse entre tantas outras mães? Entre juradas, advogadas e mulheres comuns que trabalhavam? Que utopia. O moleque não a reconheceu.
Quando se separaram muito cedo na vida dele, não havia amor confesso. Grávida, ela andava pelas ruas, num desatino de fome e pobreza.
Por ela era melhor não tê-lo.
Mas agora, em liberdade, aquelas mulheres de terninho insistiam com ela que deveria requerer a guarda que ela mesma não queria. Quase ninguém aceita que uma fêmea seja assim, desnaturada.
Do outro lado, uma galinha carijó defendia às bicadas, seu rebento adquirido.
A mãe biológica não se importava. Para o próprio filho e para ela, seria bem melhor que a outra tivesse razão.

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