domingo, 21 de junho de 2009

Helena


Nasceu cuspindo, como se eu, interiormente, fosse de chocolate, que ela abomina.
Logo deixou claro que não tinha problemas renais, "fiquem todos calmos".
Quando respirou, baliu tão fracamente que ninguém naquela sala acreditaria que um mês depois estaria cantando ópera para todo o quarteirão ouvir.
Tudo correu bem, ela foi para o berçário sob os protestos do pai, que queria ficar com ela só mais um pouquinho.
Só a vimos novamente à noitinha, para a primeira mamada. Passei o dia louca de saudade, tomei um banho para esperá-la e quando ela chegou ficamos juntas pelejando um pouquinho e logo a enfermeira já veio levá-la. -" Já?" Bem, eu a tinha colocado ao meu lado na cama, (eu e aquele casulinho quente) e o Miguel estava perto, na cama de acompanhante. Estávamos os três exaustos e nossos primeiros momentos juntos passamos dormindo...
A pediatra veio fazer uma visita e afirmou que suas notas ao nascimento foram: 9-10-10. Eu, que estava recostada, sorridente e relaxada, sentei pra perguntar: - nove? Por que nove?
Desde que ela nasceu, aliás desde que eu nasci, eu quero dez, eu quero o máximo, eu quero tudo. E foi com ela que aprendi a respeitar os bons e os maus momentos, a ser mais tolerante, comigo, com ela, com o mundo todo. Fui ficando mais feliz.
O inverno tinha começado no dia anterior e fazia um frio...
Fomos para casa dois dias depois e começamos a conhecer nossa menininha, fortaleza frágil, castelo de cartas sempre reconstruído, cada vez mais determinada, cada dia mais intensa e definitiva.
Com medo de que ela me perdesse, tratei de ensiná-la a ser auto-suficiente, capaz de reagir e seguir em frente. O que eu não sabia é que a convivência com ela me transformaria em alguém mais estruturado, mais definido, um castelo pra valer, de pedras e metais.
Aos 21 anos, ela é uma mulher intensa e apaixonada. Defende suas opiniões com avidez e bons argumentos. Um amigo dela disse certa vez, que ela, mesmo estando errada, está certa. Ela tem convicção e auto-estima e vá lá, não gosta de perder... Mas afinal, quem gosta?

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, morri de saudades de tudo. Da bonga-bonga, da menininha que ficava experimentando vestidos e boás pela sala e se achava a própria pequena sereia, das tardes que a gente passava jogando ou vendo a incansável cantar no karaokê se achando a diva.

Parabéns pra ela e pra vcs tb!!!

Carla Lorecchio Catroqui disse...

Puxa!!!!!Ela me lembra alguém...Ah!Já sei...Minha amiga Pat!
Beijão!