quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Voltar a ser

Tenho esperanças de voltar a ser. No piano, vários papéis empilhados, causam uma impressão de desleixo. Contas a pagar. Quando eu voltar a ser, as contas não mais atrasarão.
Sobre o mármore na cozinha, umas frutas esperam para serem lavadas e empilhadas na fruteira. Falta de tempo, falta de ânimo. Quando eu voltar a ser, vou comer todas as frutas que comprar.
Os vidros das janelas estão sujos, choveu e choveu e os vidros estão muito sujos. Vai chover de novo, mas tenho que me preparar para limpá-los. Vidros sujos escurecem as sombras e as penumbras.
O cão se coça no jardim, curtindo o prazer da coceirinha. Preciso banhar o cão e talvez o gato. Acho que posso deixar para amanhã, mas amanhã sem falta, se não chover de novo.
As malas estão por desfazer, roupas sujas, roupas usadas, uns tênis, coisas de toucador e eu sei, em algum cantinho está um bombom Garoto.
No quarto de quem mora fora, tudo está em ordem. A ausência organiza. O silêncio limpa.
Vou varrer a casa e depois trocar as roupas de cama, mas antes preciso falar com a Beth sobre as aulas de ginástica. Se ela puder vir, convido para um chá com bombas de chocolate. A Beth nem vai reparar, talvez me ajude a reparar tudo, talvez faça um curativo no meu machucado.
Preciso comprar pão, vou de bicicleta, ou melhor vou pedir ao meu menino que busque o pão, de bicicleta. Lá fora, o sol arde, aqui está confortável por causa do ar, não vou sair, vou esperar que alguém vá e compre, vou deitar um pouquinho, minha cabeça dói.
Amanhã, quando acordar, estarei menos ferida, quem sabe amanhã mesmo, volto a ser.

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