Deixou ali, pousada sobre o prato, a criatura exangue e foi atender ao telefone.
Ao voltar, o frango estava de pé, com a cabeça pendendo para um lado e ela, barrigrávida, pôs as mãos na cabeça em um "aimeuDeus" desanimado. Sentou-se tonta também e esperou que a natureza efêmera das coisas terminasse o trabalho. O frango por fim desabou sobre o prato de sangue espirando o vermelho; e um olhar vítreo ainda olhava para ela. Na bacia de água fervente, escaldou o pobre e começou a depená-lo com zelo e competência. Um cheiro acre se espalhou pela cozinha. Ela sapecava a pele na chama aberta do fogão. Deixou o frango sobre a pia, jogou fora as penas direto no lixo lá da rua, voltou com uma faca afiada, extraiu as vísceras, lavou muito bem a carcaça, destrinchou, refogou e cozinhou até que o ambiente voltasse a ter um cheiro bom e convidativo. Por fim colocou o sangue no molho do refogado e esperou que ficasse consistente.
Na hora do almoço, a família em festa, não pode comer.
E foi a última vez que preparou um frango ao molho pardo.
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