Conferi as portas da geladeira, verifiquei com cuidado se todas as lâmpadas estavam apagadas. Depois dei uma volta no jardim, retirei folhas mortas, flores murchas...
Ainda sinto o coração agitado, inquietudes...
Ontem acabei de ler o livro de Ingrid Betancourt e sua saga como refém das FARC. Acho que com tanta sede e tanta fé ela é a sobrevivente possível, das que ficam para contar.
Eu, refém de mim mesma, as vezes me maltrato e perco a fé.
Presa às correntes que me imponho, peço autorização para gritar quando o caos se instala.
Meu grito é rouco, sinal de muitos dias sem falar, onde estão meus companheiros?
Calculo que, se caminhasse pelas matas e encostas e margens de rios, ao sentir o cheiro pungente do verde decomposto, talvez me libertasse desta vocação para mártir.
Porque reconheço que vivo amparada pelas redes invisíveis dos que me querem bem, acredito que jamais me deixarão e assim mato minha fome de amor, esta carência em saco sem fundo.
Escondo meus tesouros nas dobras das roupas e finjo que não os tenho. Desta forma tornam-se mais valiosos e ao reencontrá-los fico repleta de júbilo.
Meu pobre espírito, sôfrego e náufrago cala-se diante da grandeza e coragem das Ingrids que acompanho.
E eu, com minha vida tão boa, volto para o calor e a penumbra do quarto de dormir.
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