Sou mineira também mas não preciso de resgate.
Nasci em Minas Gerais, onde boa parte do horizonte é finito e próximo.
Da última vez que estive lá fotografei a incrível mudança de relevo durante a viagem de 5 horas. Ao sair do Rio - onde o mar se prolonga e se acaba no céu - depois da primeira hora, começamos a subir e subir, os tímpanos estonteados e entramos nas nuvens. Faz um frio estranho. As montanhas vão se entrelaçando e fogem umas dentro das outras, inibidas, quase envergonhadas de sua beleza plena e cobrem-se com a transparência diáfana da neblina. Em alguns pontos, vemos um vale profundo e às vezes um fio de água que esboça um desenho distraído, como quem fala ao telefone. Na medida em que descemos a serra do outro lado, depois de Petrópolis, o relevo se torna menos ambicioso, mas mantém para sempre e progressivamente, seu destino ondulado. Uma estrada cheia de curvas e avisos de perigo, deixa apreensivo qualquer um que não esteja habituado. Mas a gente se distrai quando aparecem os trens, desde aqueles com incontáveis vagões carregados de minérios, enormes, que serpenteam, aparecem e desaparecem para logo ressurgirem, na outra curva; até as locomotivas meio abandonadas numa estação imaginária onde aguardam sua vez.
As cidades pelo caminho também são onduladas - algumas me lembram as
favelas cariocas em maiores proporções. As casas são construídas nos
morros e vê-se a diversificação de cores e formas. Olhamos para as casas
e elas, como os abismos, nos olham de volta.
Quando mais próximo do destino, mais o relevo se encrespa, mas tudo vai acontecendo aos poucos como numa fábula onde tudo começa no era uma vez da Serra dos Órgãos até o final feliz de um Belo Horizonte.
Um comentário:
Titinha! Como voce pinta bem uma paisagem, menina! Lendo a sua postagem vi as cenas todas, maravilhosas, na minha frente, como se estivesse admirando um quadro real.
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