quarta-feira, 22 de junho de 2011

23

Fiquei acostumada a vê-la caminhar pela sala, pequenininha, sempre muito cautelosa, raramente caía. Segurava com firmeza as pontas de apoio, os dedinhos  brancos da força que fazia para sentir-se segura.
Alguém disse que coragem é sobrepujar o medo.  Como os cães animosos que eriçam os pelos mas partem para o perigo.
Tem medo sim, minha menina, mas é cheia de coragem. Não se atira não, que isso a mãe é quem faz, ela se entrega. Envolve-se  com seus projetos, que escolhe com cuidado, e vai em frente.
Fiquei acostumada a vê-la chorar muito por qualquer incidente ou repreensão. Chorava com efeito "blockbuster" - o mundo ouvia. Com os anos foi ficando mais contida na garganta mas os olhos marejados traem.
Qualquer suspiro mais fundo de alguém querido e ela fica muito preocupada: o que foi? O que aconteceu?
Depois se acalma, discute com bons argumentos, quer resolver tudo. Então segue adiante.
Quem já ouviu aquela risada cintilante sabe o que quero dizer. Delícia. Se pudesse me transformava em um palhacinho sobre seu ombro, só para vê-la gargalhar mais amiúde.
E o abraço? Como pode ser tão envolvente e quentinho?  Vem lá de dentro, gente e se expande numa aura cálida.
Reconheço às vezes em um reflexo o meu bebezinho, mas 23 anos depois ela tem muitos poderes.
Tomem cuidado, vocês intempestivos.
A única kriptonita para ela é a injustiça.

2 comentários:

Gabi Maltos disse...

23 anos vividos, 5 anos de amizade e mto amor, sempre. Grande Nena!!! :)

Letícia disse...

Como você consegue escrever essas coisas, tia? Me deu vontade de ser a Helena só pra esse texto ser pra mim. Lindooooo! Love u.