sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Os balões dos anos

Cinquenta e três anos não pesam. O que pesa é o que deixei de fazer, estas bolhas densas que flutuam órfãs em volta de mim.  Algumas são tão antigas que perderam a cor saudável e desmaiam se as olho com curiosidade. O que foi que deixei de fazer aos quatro anos? E esta bolha dos sete? Onde foi que falhei? A dos doze anos com sua cor violeta tem a ver com procrastinação, disso eu me lembro bem.  A bexiga bem pequena e um tanto murcha é a dos dezoito anos, quando fui plena e realizei boa parte do que idealizara.
Atrás da minha cabeça há uma sequencia de bolhas médias quase do mesmo tamanho, azul-marinho e cintilantes. Reparo que são as dos anos das grandes depressões... Como estão atrás de mim e tenho que me contorcer para vê-las, vou deixar estar, não preciso delas, preciso?
A bolha dos vinte e nove parece uma bola de gude, brilha! Foi quando tive Helena, foi quando tive a certeza de ser completamente, foi quando mais me amei na vida, quando mais amei viver.
Alguns anos mais pesados flutuam à altura dos meus joelhos. Vou chutá-los todos, que desapareçam.
Também posso explodir todos eles com a ponta de uma tesoura, já fiz isso antes.
O que me impede de repetir este ato tresloucado é não ter certeza do que vai sobrar...
E se eu também, aos 53 for apenas o desalento de balões estourados, prostrados no chão?
Vou deixar as 53 bolhas por aí...
Depois desta brilhante conclusão só me resta ir até a cozinha e fazer uma limonada.

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