segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A mimosa saudade

Existe um  tipo de saudade que é menos definitiva do que o para sempre.
É uma doença crônica que vai acompanhando a gente pela vida, às vezes mais pungente, em outras só uma brisa.
Mas basta uma pessoa querida ir morar no exterior para criar-se a doença da falta.
A Renata, minha irmã, é especialista em morar longe. Ela, que faz uma alegre fuzarca na vida da gente quando vem, costuma dizer que perto do dia da viagem para o Brasil, a doença se agrava. Segundo ela a saudade  tinha estado cochilando guardada em um cantinho da casa, para que ela pudesse tocar em frente a rotina, o dia, o viver. Mas, na hora de arrumar as malas para vir, acaba por desencantar a mimosa, que fica então exposta e aflora e cheira a pão de queijo e a bolinho de feijoada. Imagino que parte disso se deve ao fato de ela pensar em cada um de nós, de se empenhar em trazer presentes especialmente escolhidos  e para todos; além das encomendas que sempre aparecem, é claro. Eu, por exemplo, sempre tenho um objeto de desejo para a próxima vinda, assim que ela acabar de partir.
Ela também sofre muito, já uns dias antes de voltar para casa e esta parte nós compartilhamos.
É frequente vê-la dar um suspiro fundo, passando os olhos pelas pessoas queridas e dizer: ai...ai...
Ela diz que quando volta para casa leva mais de um mês para doer-se menos, enquanto vai reorganizando o dia a dia. A saudade por fim,  acaba meio esquecida, adormecida em uma gaveta de lembranças.
Bem, se estivéssemos todos vivendo juntos, certamente estaríamos às turras com velhas discussões e diferentes pontos de vista.
Porque a convivência e a rotina nunca ouviram falar em saudade.
Por outro lado, ver-se e tornar a ver-se um ano depois refina o prazer de estarmos juntos mais uma vez.

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