Eu tinha uns 13 anos quando formei minha primeira ideia sobre São Paulo. Para mim era um outro país, muito, muito distante. Naquela época viajar de carro por meia hora para ir ao clube já era tempo demais, imagine ficar no trânsito por duas horas...Só podia ser mentira...
Em umas férias, na fazenda, conheci uns garotos paulistanos, lindos, diferentes demais dos meus amigos mineiros. Falavam uma outra língua, falavam de si com desenvoltura, usavam shorts curtinhos e tinham as pernas mais brancas que eu já tinha visto em minha vida.
Um deles tinha também olhos azuis resplandecentes, o que me transformou em uma meninazinha apaixonada e sonhadora.
São Paulo foi ficando menos vago quando minha irmã mudou-se para lá para estudar medicina. Eu me dava ares de importância quando dizia: - " Tenho uma irmã que mora em São Paulo! " Então aconteceu de um roqueiro loiro e cabeludo dar um show na paulicéia. A Renata precisava ir e também precisava de companhia e lá fui eu com ela. Não tinha a menor noção do tamanho da encrenca. Fomos ao show, lotado de gente, música linda e altíssima e lá longe no palco eu podia ver - mais até do que a pequena Renata- aquele cabelão girar fulgurante como um cometa. Na hora da saída, um conflito: Não tinha mais ônibus, não tinha mais táxi; e o tempo passando; e cada vez menos gente; e a escuridão substituindo os faróis; e o silêncio, as buzinas. Ela então resolveu perguntar para um moço que estava dirigindo um carro chique, acompanhado de uma moça perfumada e muito bem arrumada, como poderíamos ir até os jardins. Acho que era um anjo... Ele nos disse que nos levaria aos jardins e nós entramos naquele carrão cheio de luzes e som. Pouco se conversou naquele trajeto. Eu, pelo menos não ouvi, estava surda de pavor e vergonha, querendo voltar pra Minas, querendo voltar pro meu quartinho, seguro e quentinho.
Mas, finalmente ele nos deixou em frente ao prédio em que estávamos e a cidade, naquele momento pareceu-me acolhedora e suave.
Uns anos depois a própria Renata casou-se e mudou para São Paulo, que cresceu aos meus olhos ainda míopes demais para a grandeza da cidade.
E o sábio destino que foi me apresentando São Paulo aos poucos, apresentou-me definitivamente a cidade quando eu própria me casei e mudei para lá.
Mas ficava ali, no meu mundinho, protegida, só ia por perto e em geral a pé. Sempre gostei de caminhar. Ônibus para mim são entidades do mal, aquilo não pode dar certo...Táxi, era caro demais... O medo limitou meu espaço e São Paulo continuou pequena. Mas nos fins de semana, Miguel me levava de ônibus para o centro da cidade. Íamos em busca de todas as novidades fotográficas, comprávamos muitos filmes, em preto e branco, porque montamos um minúsculo laboratório de fotografia, que nos rendeu muitas noites entre produtos químicos e imagens de São Paulo. Lembro-me de ter fotografado meninos da rua, eu no centro da cidade com uma máquina, com certeza melhor que a média e fotografava assim de improviso, sem susto, quase sem medo.
E ali vivemos, quase vinte anos. E ali tivemos nossa única filha, que criou raízes profundas e invioláveis em sua cidade natal. Durante este tempo, eu aprendi a dirigir pela cidade e pasmem, eu andava de moto. Ia pra onde tinha que ir, mas meu medo interior era maior e eu nem me dei conta das situações de risco sério que eu devo ter passado. Trabalhava perto de casa, comia perto de casa, passeava perto de casa. Mas com Helena, precisava levá-la a todo lugar onde se levam as crianças e perdi o medo de dirigir, transportando minha pequena. Fui vivendo dia a dia... e puxa, como passou depressa.
Agora já moro no Rio há mais de dez anos e vejo São Paulo pelo prisma da maturidade e do distanciamento. Tenho simpatia pelos paulistanos. Ainda são muito brancos, ainda tem ocasionalmente olhos azuis, ainda falam uma língua familiar, mas estrangeira.
E minha filha, uma semente que brotou naquela terra, mora lá. Ela adora São Paulo e sempre que vou visitá-la vejo que a cidade pertence a ela e a cidade contem Helena.
Ela tem me apresentado sua versão de São Paulo que é muito mais gentil e complacente, mas que continua gelada.. Usa com confiança os transportes públicos da cidade. Vai onde quer ir, mesmo que seja longe. Ela está sempre vestida, sempre esbanjando sua própria interpretação da moda.
Não me lembro de ter visto nos shoppings de lá, cartazes que dizem - Proibido entrar sem camisa. Puxa, porque uma pessoa iria ao shopping sem camisa? Morando no Rio, eu sei porquê. Em Sampa ninguém aguenta.
Em umas férias, na fazenda, conheci uns garotos paulistanos, lindos, diferentes demais dos meus amigos mineiros. Falavam uma outra língua, falavam de si com desenvoltura, usavam shorts curtinhos e tinham as pernas mais brancas que eu já tinha visto em minha vida.
Um deles tinha também olhos azuis resplandecentes, o que me transformou em uma meninazinha apaixonada e sonhadora.
São Paulo foi ficando menos vago quando minha irmã mudou-se para lá para estudar medicina. Eu me dava ares de importância quando dizia: - " Tenho uma irmã que mora em São Paulo! " Então aconteceu de um roqueiro loiro e cabeludo dar um show na paulicéia. A Renata precisava ir e também precisava de companhia e lá fui eu com ela. Não tinha a menor noção do tamanho da encrenca. Fomos ao show, lotado de gente, música linda e altíssima e lá longe no palco eu podia ver - mais até do que a pequena Renata- aquele cabelão girar fulgurante como um cometa. Na hora da saída, um conflito: Não tinha mais ônibus, não tinha mais táxi; e o tempo passando; e cada vez menos gente; e a escuridão substituindo os faróis; e o silêncio, as buzinas. Ela então resolveu perguntar para um moço que estava dirigindo um carro chique, acompanhado de uma moça perfumada e muito bem arrumada, como poderíamos ir até os jardins. Acho que era um anjo... Ele nos disse que nos levaria aos jardins e nós entramos naquele carrão cheio de luzes e som. Pouco se conversou naquele trajeto. Eu, pelo menos não ouvi, estava surda de pavor e vergonha, querendo voltar pra Minas, querendo voltar pro meu quartinho, seguro e quentinho.
Mas, finalmente ele nos deixou em frente ao prédio em que estávamos e a cidade, naquele momento pareceu-me acolhedora e suave.
Uns anos depois a própria Renata casou-se e mudou para São Paulo, que cresceu aos meus olhos ainda míopes demais para a grandeza da cidade.
E o sábio destino que foi me apresentando São Paulo aos poucos, apresentou-me definitivamente a cidade quando eu própria me casei e mudei para lá.
Mas ficava ali, no meu mundinho, protegida, só ia por perto e em geral a pé. Sempre gostei de caminhar. Ônibus para mim são entidades do mal, aquilo não pode dar certo...Táxi, era caro demais... O medo limitou meu espaço e São Paulo continuou pequena. Mas nos fins de semana, Miguel me levava de ônibus para o centro da cidade. Íamos em busca de todas as novidades fotográficas, comprávamos muitos filmes, em preto e branco, porque montamos um minúsculo laboratório de fotografia, que nos rendeu muitas noites entre produtos químicos e imagens de São Paulo. Lembro-me de ter fotografado meninos da rua, eu no centro da cidade com uma máquina, com certeza melhor que a média e fotografava assim de improviso, sem susto, quase sem medo.
E ali vivemos, quase vinte anos. E ali tivemos nossa única filha, que criou raízes profundas e invioláveis em sua cidade natal. Durante este tempo, eu aprendi a dirigir pela cidade e pasmem, eu andava de moto. Ia pra onde tinha que ir, mas meu medo interior era maior e eu nem me dei conta das situações de risco sério que eu devo ter passado. Trabalhava perto de casa, comia perto de casa, passeava perto de casa. Mas com Helena, precisava levá-la a todo lugar onde se levam as crianças e perdi o medo de dirigir, transportando minha pequena. Fui vivendo dia a dia... e puxa, como passou depressa.
Agora já moro no Rio há mais de dez anos e vejo São Paulo pelo prisma da maturidade e do distanciamento. Tenho simpatia pelos paulistanos. Ainda são muito brancos, ainda tem ocasionalmente olhos azuis, ainda falam uma língua familiar, mas estrangeira.
E minha filha, uma semente que brotou naquela terra, mora lá. Ela adora São Paulo e sempre que vou visitá-la vejo que a cidade pertence a ela e a cidade contem Helena.
Ela tem me apresentado sua versão de São Paulo que é muito mais gentil e complacente, mas que continua gelada.. Usa com confiança os transportes públicos da cidade. Vai onde quer ir, mesmo que seja longe. Ela está sempre vestida, sempre esbanjando sua própria interpretação da moda.
Não me lembro de ter visto nos shoppings de lá, cartazes que dizem - Proibido entrar sem camisa. Puxa, porque uma pessoa iria ao shopping sem camisa? Morando no Rio, eu sei porquê. Em Sampa ninguém aguenta.
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