sexta-feira, 31 de julho de 2009

Uma bolsa triste

Chove no paraíso tropical. Faz frio também. O gato e eu esperamos a chuva acabar de chover. Olhamos pela janela, as mãos no queixo, os cotovelos no parapeito. Enquanto isso caraminholas brotam, emergem, do fundo falso da minha bolsa. Olho para dentro e o espaço vazio está cheio de pequenos pulgões e traças. Alguns vermezinhos brancos e molengas deslizam entre fios de algodão. Alcanço algo macio e descubro que é um bem- casado esquecido depois de um casamento bêbado. Uma mancha escura com cheiro de chocolate lembra-me que comprei toblerones na última viagem. Um pedaço de fita do senhor do Bonfim era o desejo de ter algo que despedaçou. Um batom vermelho meio torto, salpicado de fumo de cigarros amassados pela pressa, também estão lá. (Só as pessoas que já carregaram maço de cigarro e batom sem tampa na bolsa conhecem essa imagem.) Ahn, também encontro uma lente gelatinosa da minha filha, ressecada e opaca. E uns pelos de gato amarelo, muito antigos, um gato que já morreu...
Cá entre nós, ainda bem que este fundo era falso.
Vou deixar isso pra lá e sair pra comprar uma bolsa nova, com cheiro de novidades.

Nenhum comentário: