quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desejos

O meu maior desejo, o que eu mais queria mesmo era poder,  com 50 anos assistir a minha vida em DVD.
Se organizasse tudo, ou contratasse minha irmã especialista, teria uma coleção riquíssima, separada por tópicos:
romance, aventuras, os clássicos, didáticos... Sim, porque assistiria conforme minha disposição do momento.
Se precisasse de uma memória que escapa ou de uma data, se preciso ver de novo o quanto tenho sido amada, se tenho que  me convencer de que fiz o melhor possível.
Mas o melhor de tudo seria poder rever todas as pessoas que cruzaram minha vida e que muitas vezes, até sem perceber contribuíram para que eu tivesse esta natureza sensível e o olhar brilhante e vivo que agora vejo refletido no espelho.
E também poder compartilhar essas lembranças com todos os atores, figurantes e  cenários que me deram esta bagagem.

Estranheza

Era a primeira vez que passava uns dias fora de casa e sozinha, sem os pais e a irmã.
Sentira que poderia ficar, mas quando viu o carro do pai dobrar a esquina, assustou-se.
Entrou na sala com a tia, que a segurava pela mão e falava com ela doce e suavemente, mas ela nem ouvia.
Olhou os móveis que já conhecia  tanto, como se fossem novos, que estranha luz que não havia antes e esses cheiros tão agudos, de onde vieram.
Continuava a ouvir surdamente a voz familiar.
Notou então que a tia esperava uma resposta.
-"Ahn?"
Agora ouviu a pergunta.
Balancou a cabeça assertivamente, abrindo bem os olhos.
Foi brincar com os gatinhos lá no quintal.
Quando se deu conta era quase noite, era hora do banho e do lanche.
Acho que posso, pensou concluindo.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Partir

Não vá chorar agora, no final.
Emoções pelo ano todo, dias bons, ruins, normais, afetos, afagos, desconsertos e agonias...
Enfim o ambiente  sem você e você aguda, agulha, única, para se jogar de novo,  mas com a cautela da criança que conheço.
Partir é bom, remove as águas que vão seguir em frente até a imensidão do mar.
E você, estrela da manhã, vai brilhar de novo nesta terra, que este é seu mais puro destino.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Fingir, divino verbo

Hoje a gente finge, que é madrugada e a hora é de espreguiçar.
Nos dias calmos e quentes, cigarras chamando a chuva, vamos fingir de novo que somos imortais.
Porque ninguém compreende a imortalidade como nós fazemos.
Acima de nós o céu azulíssimo, nossa atmosfera.
Posso fingir que invento porque o pensamento flui,  líquido derramado, escorre pelas esquinas.
Eu acredito no que criei:  o clima, o rio que flui, o azulado e denso firmamento.
Ser imortal, criar e descriar, estas atividades tão divinas que espelham agora o tamanho do meu abismo.
Finge que é solidário, vem ser divino comigo.
Porque não busco o sentido da vida, mas encontraremos o sentido das coisas.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Olha, está chovendo.

Olha, que bom, está chovendo. Meu jardim sacode todas as suas folhinhas, agradecido.
Chove mansamente,  uma  melodia dedilhada em um pianinho de criança.
Gosto da chuva quando ela cai assim, em visita e de passagem.
Gosto também se ela vem para passar a noite, conta por onde andou e de madrugada, pega suas gotas e sem se despedir sai de fininho e deseja a todos um bom e produtivo Ano Novo.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ahhhhh, o Natal....

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Preferências

Estou preferindo as frutas. Especialmente as vermelhas e suculentas. Prefiro cidades afortunadas, aquelas que tem pessoas miúdas e trânsito de bicicletas. Também tenho prazer com cidades obscurecidas pela fumaça seja ela pelo frio ou por queimadas.
As minhas músicas prediletas, tocam no meu ipod, mesmo se nao escuto.
A vida continua e eu vou indo de bicicleta por aí.

2001 - 2010

Assistimos 2001 - uma odisséia no espaço...
Neste mundo idealizado não havia aquecimento global e nem inundações.
Havia grande desenvolvimento das comunicações - do espaço era possível conversar com a filhinha na sala de casa, através de imagens em tempo real. Não havia ainda a internet...
Havia momentos, quando era muito nova, que a solidão me conduzia ao sono, o tédio era soberano.
Hoje fico pensando na facilidade que temos de comunicação e como é divertido estar com todo mundo, mesmo vestindo uma camisolinha rota.
Que bom que estou viva e sinto tanto prazer!
Não ferva ainda, planeta, não estou pronta.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

Caos

Vi o caos de perto na quinta-feira. Quando voltamos de São Paulo e saímos com o carro do aeroporto Santos Dumont, em poucos minutos ficamos ilhados - água por todos os lados. Era tarde da noite e passamos mais de três horas em congestionamentos movidos a barreiras de água. Cada caminho planejado mostrava-se inútil depois de poucos metros. Andar cem metros era glorioso.
Hoje, vi umas fotos tristes, mas belíssimas do caos em São Paulo na semana passada.
http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/cidade-submersa/
Ao vivenciar e ver estes desastres observei que curiosamente não há pânico, ninguém buzina, todos esperam por qualquer sinal de melhora do aguaceiro, poucos se aventuram nas águas, sem sucesso. Pessoas empurram carros enguiçados, empurram carrinhos, motos, bicicletas, muitos encharcados tomam plenamente a chuva, a revolta da natureza.
Todos estão tristes. Todos parecem conformados.
Conformados.
Caos consciente.
Nossa espécie auto-ameaçada.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lamentação

As cigarras lamentam.
Clamam pela chuva, por um pouco de sombra, por um eclipse do sol.
Estão há quase um mês cantando roucas, mas hoje é pura lamentação.
Muita vida espreita debaixo da terra seca. Querem explodir, mas aguardam.
Não posso prometer que chova hoje. Mas estarei cantando aqui dentro de casa, chamando uma chuva mansa, que seja abençoada por Deus e seus escudeiros.