quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Procrastinação



Sabia que precisava eliminar as pequenas tarefas de imediato. "Nada que vá demorar menos de 15 minutos deve ser deixado para depois", tinha aprendido. Só assim aquelas luzinhas irritantes e o frio no estômago paravam de acontecer. Lembranças físicas...Também os movimentos parasitas, que tomam tanto o tempo da gente e nada valem devem ser eliminados. Aprendera com a irmã, muito mais organizada, que não há motivo para deixar a chave de casa em qualquer lugar, se existe um canto definido para ela. Pronto - coloquei a chave na latinha, levei meu casaco para o quarto, tirei os sapatos no closet. Chegava e ia se desvencilhando dos trabalhinhos. Uma tarefa simples e tão definitiva, não precisa ser desdobrada. Porque os momentos perdidos são para sempre, pensava. O telefone tocava e ela correu até a sala ainda com a meia pendurada no pé esquerdo. Com o fone no ouvido e a meia na outra mão, conversava lustrando distraída, um gatinho de metal. Depois foi tomar um banho mas esquecera a meia perto do telefone. As luzinhas!! E voltou para buscar. Estava ainda treinando mas gostava da ideia de otimizar seu dia. Queria tempo para si, para não fazer nada  e sem sentir o frio da lembrança.
Pendurou a toalha, vestiu uma roupinha de malha-de-ficar-em-casa, preparou um miojo e ligou a TV.
Suspirou ao decidir deixar para lavar a panela do macarrão em outra hora. Ora, ninguém é de ferro.
Acabou dormitando no sofá e quando foi para o quarto, já era o dia seguinte.
Sorriu ao pensar que não deixara para depois um bom e restaurador cochilo.

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