Sabia que precisava eliminar as pequenas tarefas de imediato. "Nada que vá demorar menos de 15 minutos deve ser deixado para depois", tinha aprendido. Só assim aquelas luzinhas irritantes e o frio no estômago paravam de acontecer. Lembranças físicas...Também os movimentos parasitas, que tomam tanto o tempo da gente e nada valem devem ser eliminados. Aprendera com a irmã, muito mais organizada, que não há motivo para deixar a chave de casa em qualquer lugar, se existe um canto definido para ela. Pronto - coloquei a chave na latinha, levei meu casaco para o quarto, tirei os sapatos no closet. Chegava e ia se desvencilhando dos trabalhinhos. Uma tarefa simples e tão definitiva, não precisa ser desdobrada. Porque os momentos perdidos são para sempre, pensava. O telefone tocava e ela correu até a sala ainda com a meia pendurada no pé esquerdo. Com o fone no ouvido e a meia na outra mão, conversava lustrando distraída, um gatinho de metal. Depois foi tomar um banho mas esquecera a meia perto do telefone. As luzinhas!! E voltou para buscar. Estava ainda treinando mas gostava da ideia de otimizar seu dia. Queria tempo para si, para não fazer nada e sem sentir o frio da lembrança.
Pendurou a toalha, vestiu uma roupinha de malha-de-ficar-em-casa, preparou um miojo e ligou a TV.
Suspirou ao decidir deixar para lavar a panela do macarrão em outra hora. Ora, ninguém é de ferro.
Acabou dormitando no sofá e quando foi para o quarto, já era o dia seguinte.
Sorriu ao pensar que não deixara para depois um bom e restaurador cochilo.
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