sábado, 11 de setembro de 2010

Anjo

Abriu os olhos e ainda estava escuro.
Suspirou e virou-se de lado, daqui à pouco deve amanhecer.
Mas  cada vez que abria os olhos, o escuro zombava dela. É que o futuro zombava dela. Porque tinha que ser assim. No seu mundo tudo ocorria em pulsos. Os minutos se demoravam, se recusavam até que a tensão era grande demais e passava-se um quarto de hora em um átimo.
Percebia as diferenças de ser, sabia que a mancha cinzenta que tinha no braço era a maldade e não se conformava. Sempre que queria ser feliz e via a mancha, o riso cristalino se turvava.
Abriu os olhos e sentiu que era dia. Nunca conseguira abrir os olhos no instante exato do amanhecer.
Mas não tinha importância. Nada tinha importância. E voltou a dormir e sonhar que era anjo.

Nenhum comentário: