terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tintas

Estou com as mãos sujas de tinta. Como é bom! Estou com frio também; um vento intransigente revolve os tapetes e as mantas. Esta combinação de tintas e frio lembra-me as inúmeras noites geladas que passava pintando em São Paulo. Noites inteiras, insone, num frenesi meio suicida, até acabar a pulsão e perceber que estava congelando. Levava uma hora para parar de tremer e ficar aquecida.
Os temas são outros aqui. A natureza é muito mais explícita e as minhas tintas saem amenas, menos impressionantes. As transições são mais elaboradas, as linhas mais suaves, o toque menos àspero. Tenho preferido trabalhar com as tintas a base de água, faz tempo deixei de lado a cera de abelha e o óleo de que gostava tanto.  É que  a natureza terá que digerir essas pinturas tão tóxicas... Mas o cheiro pungente, a companhia das abelhas e o tímido amanhecer daquela cidade deixaram suas marcas.
Atualmente amanheço aquecida e vivo sem pudores.
Bem, deve ter a ver também com a maturidade.

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