segunda-feira, 25 de julho de 2011

Voltar aos 27

Quando tive 27 anos, vivia entre os mortos, mas era uma pessoa comum.
Nada em mim era notável, nem mesmo minha altura que eu fingia ser panaceia para meus medos.
Tinha um medo intenso: Ser invisível.
Porque parecia-me aos 27, que já teria que ser alguém com firma em cartório e carteira de motorista. Usava uma bota velha verde musgo-encardida, que calçava meus pés como uma luva calça as mãos. Era uma segurança emprestada porque a tinha herdado de uma cunhada que era modelo e eu sentia ser a própria musa, a pisar naquelas calçadas tão impróprias...
Quando em um ímpeto meio suicida livrei-me daquele couro apodrecido, senti certa paz. Mas logo agarrei outra herança, um velho casaco surrado, masculino, que ao me tirar as formas me formava e eu era eu vísível. Passei assim meus 27 e  aos 28 era uma fortaleza pronta para criar.
Naquela idade, todo cuidado é pouco para pessoas sensíveis e criativas. Eu nem sabia então que ERA de verdade, imagine se saberia ter toda a volúpia da criação.
Eu superei meus 27... não tive que arcar com o peso enorme de ser notável, de ter fãs, de ter fácil acesso às drogas. Não havia uma família alvoroçada sobre mim, nem a mídia, nem a infâmia, nem nada grande.
Por mais difícil que tenha sido pela angústia de não estar sendo, sobrevivi.
Só por isso posso contar histórias.

Um comentário:

Renata disse...

E que historias, Tita!