Nada em mim era notável, nem mesmo minha altura que eu fingia ser panaceia para meus medos.
Tinha um medo intenso: Ser invisível.
Porque parecia-me aos 27, que já teria que ser alguém com firma em cartório e carteira de motorista. Usava uma bota velha verde musgo-encardida, que calçava meus pés como uma luva calça as mãos. Era uma segurança emprestada porque a tinha herdado de uma cunhada que era modelo e eu sentia ser a própria musa, a pisar naquelas calçadas tão impróprias...
Quando em um ímpeto meio suicida livrei-me daquele couro apodrecido, senti certa paz. Mas logo agarrei outra herança, um velho casaco surrado, masculino, que ao me tirar as formas me formava e eu era eu vísível. Passei assim meus 27 e aos 28 era uma fortaleza pronta para criar.
Naquela idade, todo cuidado é pouco para pessoas sensíveis e criativas. Eu nem sabia então que ERA de verdade, imagine se saberia ter toda a volúpia da criação.
Eu superei meus 27... não tive que arcar com o peso enorme de ser notável, de ter fãs, de ter fácil acesso às drogas. Não havia uma família alvoroçada sobre mim, nem a mídia, nem a infâmia, nem nada grande.
Por mais difícil que tenha sido pela angústia de não estar sendo, sobrevivi.
Só por isso posso contar histórias.
Um comentário:
E que historias, Tita!
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