quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mudança

Havia um caminhão de mudanças parado aqui em frente quando saí pela manhã. Estava curiosa para conhecer os vizinhos recém chegados, mas só vi os funcionários da transportadora carregando caixas e mais caixas para dentro da casa. Um pouco atrapalhada porque não tinha como sair com meu carro, segui em frente e intrigada, vislumbrei dentro do caminhão. Além das caixas, havia um suporte com roupas masculinas, uma geladeira enorme de inox, um móvel pequeno laqueado que não soube definir e dois colchões enrolados e amarrados.
Os colchões! Despidos dessa forma, forçados a uma posição de extrema fragilidade, expõem a alma dos donos. Quase não podia olhar, mas fiquei paralisada, como se estivesse diante de algo bárbaro e a todo momento pensava: Que horror!  Que horror, meu Deus!
A mudança continuou pelo dia afora e quando voltei agora à tarde o caminhão vazio mostrava sua bocarra bangela e desarmada. Alguns cobertores do tipo " sapeca-negrinho" jaziam pelo piso.
Nada de colchões. E nada de vizinhos.
Mas a força daquela imagem persiste e estou certa de que tem muito a ver com a lembrança de que há alguns anos também estivemos expostos assim e eu nem tinha me dado conta.

Nenhum comentário: