Havia um caminhão de mudanças parado aqui em frente quando saí pela manhã. Estava curiosa para conhecer os vizinhos recém chegados, mas só vi os funcionários da transportadora carregando caixas e mais caixas para dentro da casa. Um pouco atrapalhada porque não tinha como sair com meu carro, segui em frente e intrigada, vislumbrei dentro do caminhão. Além das caixas, havia um suporte com roupas masculinas, uma geladeira enorme de inox, um móvel pequeno laqueado que não soube definir e dois colchões enrolados e amarrados.
Os colchões! Despidos dessa forma, forçados a uma posição de extrema fragilidade, expõem a alma dos donos. Quase não podia olhar, mas fiquei paralisada, como se estivesse diante de algo bárbaro e a todo momento pensava: Que horror! Que horror, meu Deus!
A mudança continuou pelo dia afora e quando voltei agora à tarde o caminhão vazio mostrava sua bocarra bangela e desarmada. Alguns cobertores do tipo " sapeca-negrinho" jaziam pelo piso.
Nada de colchões. E nada de vizinhos.
Mas a força daquela imagem persiste e estou certa de que tem muito a ver com a lembrança de que há alguns anos também estivemos expostos assim e eu nem tinha me dado conta.
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