Saiu tristíssima da academia. A moça enrugada e escura que bateu de frente com ela embaralhou seus sentidos, misturou alimento com lixo orgânico. Porque para ela, as pessoas são todas boas e bem intencionadas. Com seu temperamento sensível e as gotinhas de ódio e inveja que viu brotar no olhar da outra, amassou-se como a um papel de rascunho que se joga fora. O dia todo ficou assim amarfanhado, os prazeres recolhidos, até mesmo os mais viscerais. A saciedade por exemplo, não a encontraria mais durante um bom tempo. Sentia uma inquietude e buscava o que? Onde? Aonde?
Tarde da noite, enquanto o sono não vinha - outro prazer perdido - ponderou sobre o infortúnio de milhares de pessoas em situações muito mais críticas que um desamor pontual. Gente que nunca pode saciar-se. Gente que nunca dormiu justamente.
Era tão pequena, tão pequena e pouca.
Magoada, o coração franzido, tratou de pensar na vida tão boa que tinha. E já adormecia quando compreendeu que não foi ela quem perdeu, mas a pobre moça.
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