Certa vez afoguei meus cactos por achá-los sedentos, eles que são mesmo sequinhos e precisam ser desprezados às vezes. Tem muita gente assim também. Nada de encharcar de beijos e agrados, só cordialidade, uma certa distância e suspense, ingredientes fundamentais em qualquer romance.
Porque para os cactos, que sobrevivem por sua natureza árida, há que deixá-los livres e à vontade em seu comportamento seco e espinhoso.
Outros amores não, precisam de cuidados constantes, atenção aos sinais, suspiros e as outras inquietações.
Aqui cada detalhe é percebido com um avanço ou retrocesso e tudo pode mudar rapidamente se lhe quebram o vaso. Cacos no chão, a terra espalhada e a pobre plantinha magoada em suas nervuras.
De que forma saber que casais se formarão? Por serem semelhantes ou complementares? Ouvi dizer que aqueles com mais semelhanças tem maior chance de serem felizes. Tenho dúvidas. Muitas vezes as semelhanças melancólicas carregam de roldão toda a felicidade possível e o casal cai vertiginosamente despenhadeiro abaixo por falta de uma dose de fúria de um ou de outro.
Porém, se as semelhanças são para o criativo e o saudável, tudo pode dar certo. Cá entre nós se cada um deste par hipotético é feliz interiormente, juntar felicidades é soma na certa.
As vezes é possível encontrar amores de longa data que são como peças de um quebra-cabeças. Encaixam-se perfeitamente desde que no lugar correto. Não adianta forçar um ser que acorda com as galinhas a dormir até mais tarde. E nem tornar alguém notívago, um atleta matinal.
Mas há tantas peças... Mais de mil em meu quebra cabeças pessoal. E as vezes até quero forçar um encaixe mas a forma não traduz a imagem.
Todos os meus sentidos estão moldados para compreender as pequenas mudanças no dia a dia. Alguns galhinhos secos, a terra muito chorosa, adubo demais...
Se deixasse minha plantinha ao seu bel prazer, ela morreria.
A rotina é traiçoeira e seja por excesso ou falta, o amor não pode ser cozido em banho-maria.
Choques térmicos! Esta é a melhor forma de estimular o amor!
Portanto, mãos à obra. Sem preguiça. Sem procrastinação.
Porque viver um grande amor é um privilégio.
E é um desafio para poucos.
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