Houve uma vez um país muito grande e bonito demais, mas um tanto abandonado. Era tanta terra, tanta, eram sertões inteiros sem alma vivente a não ser as almazinhas dos bichinhos do agreste que comem pau, pedra, cactos e sobrevivem. Também era uma terra santa, dadivosa se bem tratada, farta se bem nutrida. Ali, vivendo entre os animais e o sol, entre os bicharocos e a terra batida, à revelia de seu destino, crescia uma menininha.
O casal tinha vindo do sul, que maravilha! Visitavam tudo, olhavam cada renda da feira, compravam com parcimônia, bastava para eles encher os olhos.
Naquele dia visitaram um sítio e foi quando a viram. Seus olhos se tocaram e se embaçaram. A pequenininha chegara vinda do terreiro das galinhas e segurava uma pena que passava pelo rosto, feliz com seu brinquedo. Veio para perto e tocou com a mãozinha suja o colo, o vestido da mulher marejada. E foi ficando, foi encostando de mansinho, ora nela, ora nele e os dois juntos não eram mais um casal completo. Levaram para o sul a menina dos calangos. Que foi com eles como se fosse natural, como se esperasse apenas e a vida toda, pelos pais que teria.
Dizem que foi feitiço.
Eu tenho minhas dúvidas. Acho que foi uma troca de bem querer. As vezes temos demais e só repartir alivia. As vezes temos de menos e a fome de amor nos faz mais sensíveis ao afeto que transborda pelo chão.
Um comentário:
Nossa, Paty, que lindo! Beijos!
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