sexta-feira, 20 de maio de 2011

Deixar estar

Faz de conta que eu comprei um cavalinho de madeira que faz um movimento de vai e vem engraçado, só para seu prazer, só para seu deleite.
Finge que todos os animaizinhos rejeitados, foram socorridos.
Mas  tão poucos tem a sorte de encontrar abrigo e eu fico aqui lacrimosa pensando, não são apenas os animais, e todas as crianças? E todos os velhos e aqueles todos com deficiências?
Hoje vi um pai que andava rapidamente - quase corria - e falava ao telefone. Alguns metros atrás dele ia o filho com uma leve disfunção, algum retardo. O pai ocasionalmente gritava para ele -  vamos, ande mais rápido! E o rapazinho ia, correndo até alcançá-lo e ele continuava caminhando muito, muito depressa.
Talvez seja a forma dele de estimular seu  filho.
Mas fiquei cheia de dedos, cuidado com ele, cuidado, ele é tão frágil...
Contida, corri o máximo que pude, antes que minha vontade absurda de pegá-lo no colo e levá-lo para casa me envolvesse.
E aqui, continuo pensando: o que há de errado comigo? Porque não posso deixar estar?
Finge que a vida é um carrossel e que seus giros se completam em instantes e tudo volta ao normal.
Vamos fingir para sempre, que de outra forma não podemos sobreviver, nem deixar estar.

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