terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ninguém é de ferro

Sinto falta de quando vivia sem mim e não sentia falta. Acordava e ia. Vestia a roupa, saía no vento, eu não era importante. Ficava leve, os sons eram mais distantes e os prédios altos e cinzas olhavam pelas janelas, para mim. Às vezes flutuava a centímetros do passeio, tinha mais velocidade nas passadas, atravessei cidades pequenas que me acompanhavam pelas ruas.
Agora peso, cada passo faço um som de poça, não flutuo mais.
Soube que a densidade se incorpora aos poucos à alma, enquanto vai saindo dos ossos.
Depois de entreabrir minha blusa descubro que meu peito fareja o ar com a avidez dos famintos.
Hoje, comerei sem excessos, um pouco da cada vez e estarei satisfeita antes da noite. (Mesmo porque, reflito, a voracidade da noite é buraco negro.)
Agora como uma página de livro, mais tarde como um cheiro florido e por último vou comer um brigadeiro, que ninguém é de ferro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Titinha,

Queria, agora, poder estar sentada no seu sofa saboreando um brigadeiro junto com voce, escutando as suas historias. Estou com muita saudade.

Beijos

Renata, ainda anonima...