terça-feira, 17 de novembro de 2009

Papéis

Dúvida atroz. O tempo alterna momentos de lucidez azul e solidão cinzenta. Quando vejo a luz-penumbra, decido: vou andar de bicicleta. Em seguida sinto um vento frio e barulhento e tudo são sombras.
Calculo o tempo que perdi nestes pensamentos melancólicos, quantas vezes mais o tempo vai oscilar assim, sem cumprir seu compromisso de ser verão.
Espero pelo Apocalipse, que se não tem data marcada pode ser a qualquer hora.
Sinto os cheiros mais intensos e meu nariz investiga com desânimo, que há muita comida deteriorada nas prateleiras da minha memória.
Mesmo assim, decido salvar alguns dos objetos cobertos de pó e reminiscências.
Depois de limpar, escovar e classificar, poderei usá-los como peso de papel, quantos papéis.
Já fui uma bruxa, um alfinete de cabeça grande, Romeu, o pai Tomás, Joana D'arc, o Gato de Botas.
Observo que preferi papéis de essência masculina, para expor nos personagens a força que pretendo em mim.
Distraída em representar, assimilo a couraça e escondo em uma redoma de ferro, meu coração sensível.

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