sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"O palhaço sou eu"

Lembro-me da única vez que ganhei o beijo de um palhaço. Ele era ator e a peça, literalmente, uma palhaçada. Chamava-se Ado e esperava pelo público ao fim do espetáculo, na saída do teatro. Sentia muito respeito pelo ator, aquela figura mística, cheia de sombras, inatingível...
Teatros eram antros; atores eram drogados; atrizes, vagabundas.
Neste mesmo teatro conheci a Derci Gonçalves, por quem sentia curiosidade e interesse, apesar da aspereza de seu linguajar.
Naquele palco, alguns anos depois, eu também ensaiei uma peça, que nunca foi encenada porque a censura não permitiu, nunca entendi porque...
Mas a experiência deixou sua marca e hoje, quando Helena vai ao palco, para interpretar ou sapatear, reconheço que os teatros são casas-cenários, os atores, pessoas sensíveis e as atrizes, mulheres intensas.
Frederico é um ator e quando criança ganhou um presente inusitado. Renata e eu construímos um boneco-palhaço, cuja estrutura, montada em um cabo de vassoura, foi trabalhosamente elaborada. Ela no comando e eu ajudando no que podia.
Frederico era criança ainda e não tenho bem certeza de sua reação diante do presente. Mas outro sobrinho, que certa vez o visitava, não conseguia dormir no quarto do palhaço que, segundo ele, o olhava com "aqueles olhos" e dizia ho, ho, ho.
-"Mas então, é o Papai Noel!", disse a Fernanda, mãe do Frederico.
Não sei como aquela noite acabou nem que fim levou aquele mimoso palhacinho, mas na mesma época, levamos as crianças para assistir ao circo que passava pela cidade.
Picadeiro para os atores e poleiros para a plateia, debaixo da grande tenda colorida.
Parece mágica mas mesmo aquele circo simplesinho, com as trapezistas em roupas muito brilhantes já puídas pelo tempo de uso e os palhaços barulhentos, com a voz metálica dos microfones, enfiados em seus sapatos enormes, calças de barril e colarinho dançante, induzem o meu respeito.
O circo mambembe e o Cirque du Soleil, ambos extremos de mesma grandeza, agradecem os aplausos que arrancam de suas plateias.
E todos merecem um "quebre a perna" antes de cada espetáculo.

Um comentário:

Renata disse...

Titinha,

Que delicia a lembranca de nos duas fazendo o palhacinho para o Fred! E os circos, os espetaculos e a magia!

Beijos estrelados... (com muito brilho).

Renata (nao mais anonima!!!(