quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Gente querida

Adoro receber gente querida aqui em casa.
Dias antes da chegada, já estou aflita, quero ser a fada-madrinha, quero que meus queridos se sintam especialmente felizes.
É certo que já hospedei pessoas amigas que depois se transformaram. Cheguei a cogitar se as mimei demais e descobriram que sou tola.
É uma pena porque, quando desisto de alguém, é para nunca mais, é para sempre.
Um amigo promissor se transformou, de um patinho novo, em um pato feio, estúpido, canalha.
Outra roeu a corda, libertou o leão e fugiu pela escada.
Relendo vejo que espontâneamente fui pontuando meu relato com lembranças de contos de fadas.
É que estes contos me impressionaram muito e sacodem ainda aqui dentro, sempre que sou traída e sempre que sou muito amada.
Na casa dos meus pais havia uma belíssima coleção de contos dos irmãos Grim. A coleção era acessível para qualquer um que se interessasse, ficava em uma estante sempre aberta, no hall de passagem, bastava colher, como uma fruta, do pé.
Passei muitas horas sozinha, lendo e relendo por puro prazer e aprendi muito com rãs e sapos que substituíam palavras, aprendi a calar na dúvida; o silêncio trata.
Quando vou receber um hóspede querido, quero que ele tenha disponível os livros de que gosta, o hobbie que pratica, o esporte que prefere, as comidinhas que dão prazer.
Quero cães e gatos adormecendo juntos e tranquilos, quero a maciez dos colchões da princesa da ervilhas, quero poder consolar completamente, preencher todos os cantinhos tristes ou difíceis.
Preciso que comam bem, preciso de boas risadas, gargalhadas também, preciso que chorem de rir. E também preciso de que sejam verdadeiros quando se emocionarem.
Porque quando forem embora, ficarão felizes e gratos por terem vindo, cheios de boas lembranças. Vão querer voltar.
E esta é a parte de que eu mais gosto.

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